MULHERES QUE EU VI.

Semana passada quando eu vinha de um parque próximo onde moro, vi uma daquelas mulheres que fazem o pescoço girar. Estava de vestido preto, uma espécie de meia-calça verde, óculos escuros. A geografia do local favorecia seu caminhar, pois ela descia e a lei da gravidade fazia o seu andar ficar mais marcante, mais sensual, mais abusado.

Uma daquelas raras mulheres que vemos apenas uma vez, mas que jamais saem da nossa memória.

Não falo das mulheres que fazem parte do nosso cotidiano, mas das mulheres que enxergamos por um breve momento e que jamais conseguimos esquecer.

Tive a felicidade de pode admirar, além desta, quatro dessas mulheres. Mulheres que se destacam por seu modo de vestir, de olhar, de caminhar ou melhor, desfilar, pois como já escrevi uma vez, essas mulheres são de uma casta que fazem das ruas suas passarelas.

A primeira dessas mulheres que vi foi em 2001, em Porto Alegre, numa tarde de outubro. Uma tarde fria. Mulher morena, cabelos longos e negros, usava um sobretudo escuro, parecia uma daquelas personagens que costumamos ver nos filmes americanos. Sua passada era firme, elegante, o sobretudo a deixava ainda mais elegante, por alguns momentos pude apreciar a sua desenvoltura, até ela entrar numa garagem e eu não vê-la mais. Não vê-la mais pessoalmente, mas a vejo sempre nas minhas lembranças.

A outra foi quando eu ia para o trabalho, há uns dois anos, e por sorte o sinal fechou para mim. Uma mulher loira, cerca de trinta e poucos anos, cabelos presos, óculos escuros, bolsa a tiracolo, vestido daqueles leve e longo. Pena que o sinal logo abriu, mas a memória fechou e nela ficou retida a lembrança daquela mulher com pele de porcelana.

Há poucos dias vi mais uma dessas raras mulheres, esta de vinte e poucos anos, usava um short jeans curto, propício para o calor que fazia, mas um short curto que em nenhum momento a fazia vulgar, ao contrário, deixava sensual. Loira, cabelos longos e soltos, pernas longilíneas, grossas, nos breves segundos que a vi, pois estava passando de carro ela deixou uma imagem que me acompanhará para sempre.

A última mulher que vi, que faz parte desta dinastia, é uma pude admirar duas ou três vezes, pois ela caminha no mesmo parque que costumo fazer minhas corridas. Uma mulher negra, entre 45 a 50 anos, alta, não sei se ela é carioca, mas seus traços têm todas as características da mulata do Rio. Ela conhece o seu poder, pois pela pista do parque ela parece que não anda, e também seus movimentos estão acima do desfilar, ela flutua. Sempre em passos lentos, parece está numa dimensão acima das outras mulheres que frequentam aquele local, tem um balanço que hipnotiza, que atrae os olhares daqueles que passam por ela.

Mulheres que eu vi, mulheres que se foram, mas para sempre ficaram.