O Pop Morreu Numa Quinta-Feira. [Michael Jackson, 1959 - 2009]

O dia 25 de junho, quinta-feira, não começou feliz, tinha algo estranho no ar. A primeira notícia que tive ao ler os periódicos online foi que Farrah Fawcett, a Pantera, a mais simbólica de todas, havia morrido. Natural, ela estava com câncer há anos, mas fiquei mais chateado por um detalhe: não fazia mais de 15 dias que ela havia, finalmente, aceito o pedido de casamento do Ryan O’ Neal, seu amado companheiro e também ator, com o qual vivia há muito tempo e que já tinha feito o pedido por várias vezes. Não deu tempo deles se casarem de verdade, mas o Ryan sabe que foi um amor verdadeiro e bonito até o fim. E, no final, é isso o que conta.

Não bastasse uma história de amor com um triste fim, o mais grave desta quinta feira ainda estava por vir. Começaram a pulular pelos Twitters e sites da internet a notícia de que Michael Jackson tinha sofrido um ataque cardíaco e estava mal no hospital. Minutos depois ele estava em coma, outros minutos depois os boatos de sua morte já estavam correndo. Torci muito para que fosse mentira, ou ao menos reversível mas, duas horas depois dos primeiros boatos, o Los Angeles Times confirmou: Michael Jackson está morto. Aí o dia ficou realmente triste.

Apesar da obviedade de que “quem esta vivo um dia morre”, eu nunca havia enquadrado o Michael Jackson nessa categoria - na de mortal (e acho que muita gente pelo mundo também não). A sensação de ouvir “Michael Jackson morreu aos 50 anos de idade, em Los Angeles” é tão bizarra quanto ouvir que Mickey Mouse ou a Mônica e o Cebolinha morreram, é algo que beira o surreal. Mas é fica menos bizarro se entendermos que existem dois Michael Jacksons: o ícone pop, imortalizado pela relevância de sua arte e o homem falível e frágil, o instrumento da criação - que foi quem efetivamente morreu neste dia 25 de junho.

Sem dúvida, os Jackson Five seriam mais um grupo vocal do passado; os videoclipes, sem graça ou enredo, só um amontoado de imagens desconexas do artista; as Madonnas, as Britneys e afins seriam só barangas andando ‘sengraçamente’ de um lado pro outro do palco; Backstreet Boys, Justin Timberlake e todos os derivados que se possa imaginar seriam bem diferentes se não fosse esse fantástico artista, cantor e dançarino, recriar completamente a linguagem da música e da imagem no mundo Pop. Revolucionário, visionário. Sim senhores, Michael Jackson foi fundamental e sem precedentes (e talvez sem sucessores) para o pop mundial, Rei do Pop é apelido, ele era o Pop em pessoa.

Michael Levine, porta-voz de Jackson disse: “Como alguém que trabalhou como porta-voz de Michael Jackson desde o primeiro incidente de abuso sexual, eu devo confessar que não estou surpreso pela trágica notícia de hoje. Michael esteve numa dificílima e constante jornada de autodestruição por anos. Seu talento foi inquestionável, mas o seu desconforto com as normas do mundo também era. Um ser humano simplesmente não pode suportar um nível de estresse, por tanto tempo, como este”. E com essas palavras, apontou o que pode ter sido a grande causa do colapso de Michael. O mundo lhe era assustador, e ele era apenas uma criança, de 50 anos de idade, que nunca conseguiu aceitar a realidade agreste do nosso mundo.

Para quem trabalhou com o que ama desde os 9 anos de idade e não teve que abandonar os próprios sonhos, devia ser muito difícil viver num mundo onde a grande maioria das pessoas deixaram os seus pra trás em nome da sobrevivência. Devia ser difícil entender esse mecanismo. Talvez agora fique mais fácil para entendermos a pessoa por trás do artista, já que as coisas parecem fazer mais sentido depois que terminam.

Mas Michael não morreu sem dar o seu recado e causar a mega euforia mundial que sempre causou. O mundo acompanhou ao vivo seus últimos segundos, a internet congestionou, as televisões, as redações de jornal, a mídia do mundo todo estava lá, e levando um baile do desencontro de informações cada vez mais velozes. Os fãs ao redor do mundo, e me incluo na lista, torceram para um final feliz até o ultimo suspiro de seu ídolo, pois, apesar de um tanto esquecido, e de um tantão esquisito que ele havia se tornado, o mundo sempre o respeitou, amou e lhe foi grato por tantos bons momentos aos sons de suas músicas. E, sem dúvidas, continuaremos sendo, pra sempre.

Foi numa quinta feira de junho que o Pop morreu. Uma parada cardiorespiratória fatal, aos 50 anos de idade, terminou com a saga de um dos maiores e mais influentes artistas norte-americanos que já viveu, senão o maior. Mas Michael Jackson deixou um legado sincero e bonito, além de uma inquestionável parcela na tentativa de tornar o mundo um lugar mais bonito. E, no final de tudo, é isso o que conta.