Esperando os cabelos grisalhos

Conheci um cara há um tempo em uma cidadezinha do interior gaúcho. Um rapaz que aparentava entender e saber dialogar sobre uma diversidade de assuntos, vivia em sintonia com o que acontecia em nossa comunidade e no mundo. Não havia fato que não soubesse comentar e tinha adoração por opinar e tentar ajudar o mundo ao seu redor, era um cara admirável. Foi ele que me incentivou a não parar de escrever e a acreditar nos meus sonhos enquanto tomávamos uma cerveja em um pequeno bar, assistindo a um jogo de futebol e umas meninas lindas que estavam perto de nós.

Entre umas e outras piscadas para uma moreninha de pequenos e hipnotizadores olhos verdes, ele me contava das dificuldades que vinha enfrentando nos últimos tempos e dos tempos de sua infância. Percebia um saudosismo interessante, mas também lágrimas de tristeza perpassando seu olhar. Aproveitei o intervalo do jogo para interromper a conversa e convidar as meninas para nos acompanhar na cerveja. Acabei acertando em cheio, porque ali aprendi como agradar uma mulher. Meu camarada me deu a dica momentos antes: “presta atenção no que ela falar! Só isso”. Era simples mesmo, conversar é fácil se houver boa vontade dos dois lados e passa a ser muito proveitoso.

Naquele dia nosso time ganhou o jogo, tivemos sorte com as meninas e de noite fomos à casa de outro amigo em comum para saborear um churrasco daqueles de lamber os beiços. Na madrugada, um carteado com uma turma que nunca mais se reuniu novamente. Dia perfeito, raro.

Hoje, sou eu quem mantém no semblante um saudosismo e tento agir como aquele cara. Aprendi tanto na mais na vida depois de sua partida e tento diariamente compartilhar com os camaradas com quem convivo, mas poucos estão dispostos a ouvir. Talvez seja porque as companhias de hoje sejam mais autossuficientes que aquele pessoal simples que costumava me relacionar. Ou talvez porque eu simplesmente não tenha cabelos grisalhos e ainda não tenha feito nada realmente admirável para ser notado. Não importa, na verdade, porque este também foi um conselho que eu soube receber e ter a humildade de seguir fazendo valer em minha vida. “Faz a tua parte”! É verdade, mesmo quando ninguém quer dar ouvidos ou entender o nosso pensamento, o importante é dar nossa contribuição.

Não vou esperar pelos cabelos grisalhos, vou seguir escrevendo o que penso, agindo com a minha consciência, sempre tentando fazer a coisa certa, ainda que os resultados acabem mostrando que tudo deu errado, até porque não consigo prever que conselhos vou dar quando tiver os cabelos grisalhos...