Cobrador de "BUSÃO"

Deve ser muito interessante ser cobrador (a) de ônibus, ou de “BUSÃO”, como os jovens apelidou o nosso famoso e mais usado meio de transporte, principalmente se o cobrador (a) for o chamado “boa praça” ou “ponta firme”, aí então, não tem aquele que não goste. E se ele gostar do que faz, pronto, a receita está completa, e olha que não é fácil, dependendo do seu itinerário, pode-se ficar até uma hora ou mais, sentado naquele espaço de um por um, destinado exclusivamente a ele.

O cobrador (a) quando trabalha bem, é disputado a “tapas” pelos (as) motoristas, sabe que ali está o seu parceiro (a) de serviço, que nas horas de “pico”, o cara dá conta do recado, aquele que quando o movimento está tranquilo, vai até lá na frente bater um papo, ou quando são escalados para trabalharem juntos em um feriado ou véspera, não dá a mancada de faltar, e que quando necessário, sabe dar um “jeitinho” de garantir o café no final de cada viajem.

Depois de algum tempo juntos, a sintonia é tamanha que se transformam em Pelé e Coutinho, Bebeto e Romário, Bruno e Marrone, Willian Bonner e Fátima Bernardes e outras duplas famosas existentes, mantém um vínculo de respeito, amizade e confiança, o que é essencial para a jornada diária enfrentada por eles.

Qual a mulher que nunca, ao passar pela catraca, assediou um cobrador olhando em seus olhos e fazendo aquele charme? Algumas casam, outras namoram, umas apenas paqueram. Ou invertendo os papéis, aquele cara que nunca deu uma piscadinha para aquela cobradora show de bola e sentou-se justamente naquele banco próximo e tentou puxar uma conversa? Ou aquela pessoa que depois do cobrador (a), “quebrar o seu galho”, retribuiu no dia seguinte com um trocado a mais? E quando se firma em uma linha, e as pessoas gostam de sua simpatia, alegria e disposição, mesmo com Sol, chuva, frio ou calor, a recompensa é sempre maior, é uma bala, um pedaço de chocolate, um pedaço de bolo.

Todos nós sabemos da importância do (a) motorista, porém o (a) cobrador (a) está mais em contato com o público, as reclamações de atraso, o mau humor, o sarro, quando o seu clube de coração perde, o bom dia, o boa tarde ou o boa noite no tal “negreiro”, o último horário da linha, não que a responsabilidade dele (a), não seja tão importante quanto ao do (a) motorista, mas dependendo da onde se trabalha, o (a) motorista já tem muito mais com o que se preocupar.

O bom cobrador (a) ouve de tudo e é discreto, para cada história uma função diferente, é um conselheiro, um psicólogo, um apaziguador e até mesmo um padre, e ao mesmo tempo em que escuta, esquece, pois sabe que se a pessoa contou algum caso a ele, foi porque confiou. Imaginem se um desses milhares de cobradores resolve escrever um livro contanto os “causos” da sua profissão? Os passageiros perderiam toda a confiança. Hahahaha

Até pouco tempo atrás queriam acabar com esta profissão, criando catracas eletrônicas ou dando essa função ao motorista, em algumas regiões da cidade até encontramos alguns, contudo por sorte deles e “nossa”, a ideia não vingou. Infelizmente não são apenas de flores que eles vivem, quantos assaltos acontecem no seu dia-a-dia, tendo muitas vezes o fim trágico, por causa de míseros reais que carregam no seu caixa, ou quando um passageiro alterado resolve descontar nele o seu “dia de fúria”.

Eu sou amigo de um e, apesar de termos profissões distintas, a admiração por esses homens e mulheres é muito grande, o que seríamos sem esses homens e mulheres que fazem da sua profissão um orgulho, e como diz um velho ditado:

“Na vida tudo é passageiro menos o motorista e o cobrador”

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 30/06/2009
Código do texto: T1674439
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