DE ONDE VEM A INSPIRAÇÃO?

Aprendi com o escritor Rubem Alves que “ostra feliz não faz pérola”. Compreendi que nas adversidades o homem produz. Daí eu costumo dizer que tudo tem seu lado positivo. É diante da dor, da decepção, do sofrimento, do amor e da paixão que o homem escreve versos, compõe músicas, pinta quadros, escreve livros. Nada na vida acontece por acaso, o segredo é ler nas linhas tortas as mensagens ocultas. O artista muitas vezes se descobre, diante do infortúnio, da angústia, da desilusão, dos desenganos, das injustiças e de outros sentimentos prazerosos como alegria e felicidade.

Michelangelo que era uma pessoa solitária e melancólica, insatisfeito com ele mesmo encontrava na arte, a forma de extravasar suas inquietações, transformando seus tormentados sentimentos nas mais belas e valiosas obras como a pintura do “Juízo Final” no altar da Capela Sistina e a estátua de Davi feita em mármore de carrara que o consagrou também como artista escultor.

De onde vem a inspiração do poeta? Será que vem do mundo que está a seu redor? Deste mundo discriminado, preconceituoso, exclusivista, egoísta, que o poder e o dinheiro são as moedas decisórias? Mas, se tudo fosse certinho e harmonioso somente as letras seriam o bastante para transportar para o papel a poesia e a inspiração? Castro Alves, o poeta abolicionista, imortalizou-se pela defesa dos oprimidos, sobretudo dos escravos africanos trazidos para o Brasil, que eram arrancados de suas terras e postos em navios em situações desumanas. O poema “Navio Negreiro” conhecido em todo mundo, foi escrito por ele, retratando sua revolta diante da escravidão. Por sua vez o tempero utilizado por Shakespeare para escrever “Romeu e Julieta”, foi um amor impossível entre dois adolescentes de famílias inimigas. A tragédia contada neste livro se transformou em filme e foi levada também aos palcos do mundo inteiro.

O amor não correspondido, a solidão, a despedida, a morte, a paixão são ingredientes que se misturam ao papel, às letras, as tintas, as formas, as cifras e fazem o homem produzir telas, escrever poemas, compor melodias. Como toda regra tem exceção, o artista também pode simular os mais variados sentimentos e brincar com o pincel, com a caneta, com o buril, com a melodia, nos fazendo chorar, rir, admirar, nos deixando perplexo diante de sua arte. O artista ninguém entende, às vezes vê, às vezes sente, às vezes ele cria, é em vão decifrar a sua alma. No dizer do poeta, draumaturgo e escritor irlandês, Oscar Wilde, “arte é a forma mais intensa de individualismo que o mundo conhece”.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 04/07/2009
Reeditado em 03/05/2020
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