SEM LERO-LERO

Atenção, pessoas, o flerte mudou: hoje, o “não” quer dizer “não” mesmo. A velha máxima de que o “não” quer dizer “sim” já era. Não temos mais paciência para isso. Nem paciência, nem tempo. Estamos na Era da informação, da comunicação, da informática, da tecnologia, do fast-food, da oferta e da procura... Portanto, objetividade, meu povo. Essa coisa de ficar fazendo charme funciona raramente, seria uma exceção às regras contemporâneas.

Antigamente até funcionava, mas, pensem bem, isso era no antigamente de Gene Kelly, Ava Gardner, François Truffaut e do Frank (sim, estou falando do Sinatra mesmo. É que o chamo assim, pelo primeiro nome, porque a música e a voz do Frank merecem serem tratados com uma certa intimidade, não é mesmo? Ainda mais em tempos te Latino, Preta Gil e Sthefany do Cross Fox. Ah, você não sabe quem é? Sorte sua então).

Naqueles tempos, levava-se dois meses para se pegar na mão. As meninas se casavam virgens, vejam vocês... Hoje em dia, falar em casar virgem é como tentar explicar à nova geração, acostumada ao beija-flor que se dá de entrada nas Casas Bahia, o quanto valia uma nota de CR$ 100.000,00 (existia, juro!, a moeda tinha o rosto do J.K.). Fica só na imaginação, pois para eles é como pensar em alien – se existe está numa galáxia muito, muito distante.

Tudo mudou. Comunicamos-nos por MSN, Skype, Twitter, Facebook, Orkut... Nossa relações são medidas, vigiadas, calculadas. No Orkut, por exemplo, há um espaço para seus amigos (os quais você pode selecionar “só” como amigos mesmo, ou como “melhores amigos”, ou como amigos “da escola”) dizerem, percentualmente, o que acham de você. Pior: o troço é dividido em categorias, “confiável, legal e sexy”. Sério, deve ter gente que começa a fazer análise só porque o nível de “sexy” caiu para 70%. Olha, pelo menos no meu caso, 70% é para sair estourando foguete e ligando pra todo mundo pra contar:

- Mãe, adivinha?!

- O que, meu filho?

- Você não vai acreditar...

- Ai!, já sei, você passou no concurso da Petrobrás?! Que alegria!

- Não, mãe, muito melhor, consegui 80% de aprovação do meu nível “sexy” no Orkut.

Outra coisa que dá divã na certa é não ser adicionado. Você conhece a gatinha na balada, conversa vai, conversa vem e, no dia seguinte, tenta “add” (que em internetês quer dizer “adicionar”) e a pessoa não aceita o pedido... é depressão à base de tarja preta, pode escrever.

Passamos a representar nos sites de relacionamento a síndrome de novela global. Ou seja, nas páginas pessoais só aparece a melhor foto, o melhor ângulo, aquela cuja maquiagem está impecável... Ninguém assume a pancinha de chope, as espinhas, a careca, as estrias e a celulite.

É um mundo da porrada aberta ao público, dos recados explícitos, pra todo mundo ver. No MSN, por exemplo, isso é padrão e normalmente são os términos de namoro os líderes de audiência. A tal da poesia do Mário Quintana, “Não corra atrás das borboletas, cuide do jardim...”, é a campeã. Causa-me náuseas inclusive, de tanto que já vi por aí.

Flerta-se por mensagem, casa-se por vídeo conferência, termina-se por email... não adianta, nem queira ser nostálgico que é só pedir para sofrer à-toa. É como se dizer comunista em um mundo capitalista, uma falácia. O negócio é aceitar e pronto. As possibilidades mudaram, o mundo está mais aberto, mais claro, mais rápido, mais direto (tanto para o lado bom quanto para o mau). Portanto, de novo: “não” é “não”. Se você quer “sim”, diga “sim”. Sem lero-lero, mas com vem cá que eu também quero.