VERSÕES INCONSCIENTES

Li uma história interessante que me levou a refletir diante de muitos episódios do nosso dia a dia. Você conhece a história do ladrão do machado? Certo senhor ao procurar seu machado entre suas ferramentas que estavam entre as tralhas de seu quintal não encontrou. Por coincidência o vizinho estava podando as árvores de seu pomar com um machado igualzinho ao que o senhor procurava. Ele imaginou que tinha sido roubado. Não teve a coragem de enfrentar o suposto ladrão, mas sempre que o via passar ele imagina o vizinho com o andar de ladrão, o sorriso de ladrão, o olhar de ladrão, os gestos de ladrão. Um belo dia o senhor, vítima da presumida subtração, revirando seu quartinho de apetrechos encontrou o dito machado que imaginava roubado. No final da tarde, quando o vizinho retornava do trabalho ele acompanhou com o olhar o trajeto do ex larápio e pensava consigo mesmo. Ele tem o andar de homem trabalhador, o sorriso de um homem honesto, um jeito de um homem que lida.

Fiquei a refletir, quantas vezes nós imaginamos coisas que não acontecem? Imaginamos fatos que não passam de criações de nossa fértil capacidade de criar? E nos convencemos que são verdades. Menosprezamos as pessoas, diminuímos, desvalorizamos as criaturas. Somos acometidos muitas vezes de pecado desta natureza e nem sequer lembramos de pedir perdão porque ele não foi registrado na nossa consciência. Não houve fatos, apenas suposições, interpretações, julgamentos inconsistentes.

Somos levados a julgar de acordo com nossos interesses. A esposa de meu filho é uma dondoca, não trabalha, quer luxar, explora o marido. O meu genro é ruim, quer que me filha trabalhe, dá uma mísera mesada à esposa e diz que ela só quer saber de festa. O Deputado é incompetente, não faz jus ao voto que ganhou. No momento em somos beneficiados com um emprego, ou mesmo pelo prestígio deste deputado ele passa a ser honesto, trabalhador e os votos que lhe levou ao cargo foram merecidos. Se o professor exige, ele é tradicional se ele não cobra do aluno ele é negligente. O médico acerta milhões de vezes, mas se errou uma ele não tem perdão.

Este é o retrato do cotidiano, nós somos julgados e julgamos também.

“Apressar-se ao julgar é arriscar-se a uma acusação.” (Publílio Siro).

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 07/07/2009
Reeditado em 02/05/2020
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