SOBRE OS VAZIOS DA ALMA.

Já fui um sujeito que vivia em função dos meus sonhos, não importando a natureza destes.

Desde àquela idéia fixa de ser um pomposo cidadão bem sucedido financeiramente, ou ainda um famoso jogador de futebol, ou até mesmo um cantor de reconhecimento público, passando pelo amor matrimonial na sua mais bela expressão.

Na exata medida em que os anos vão se passando em nossa passageira estada neste mundo, tais sonhos vão perdendo seu vigor, fazendo com que cada vez mais nos distanciemos de nossa verdadeira essência, que representa tudo aquilo que verdadeiramente somos.

A vida nos mostra que, para cada novo recomeço, existem uma série de novas provas que devem ser encaradas como bases para tudo aquilo que pleiteamos para a nossa felicidade. Sendo assim, aquilo que nos é um simples sonho, pode muito bem ser o reflexo daquilo que já alcançamos em vidas anteriores. Essa afirmação tem sua lógica, se você olhar a questão sob a seguinte forma: "ninguém sente falta de algo que nunca teve", ou ainda, "nada justifica a saudade de alguém que você nunca conheceu".

Mas como saber se o que sentimos é a falta de algo ou alguém em nossa vida? É simples... quando essa falta/ausência se manifesta como um grande vazio dentro de nós, e não como mera aspiração pessoal.

Para muitos de vocês, a leitura deste texto creio que deva se encerrar com esse parágrafo. Não por vontade minha, mais sim pela negação de concordância na forma de pensamento.

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Para aqueles que, como eu, entendem que a vida é um complexo sistema de infindáveis recomeços, continuemos então com essa minha divagação.

Quando esses vazios se manifestam em nossa alma, o tédio, a depressão e a incompreensão das realidades que nos cercam criam sombras que persistem em nos acompanhar. Esse conjunto de negativismos auto-impostos fazem com que, muitas vezes, tenhamos a vontade de ver tudo isso acabar, seja da forma que for.

Perdemos a noção do valor daquilo que vivemos, e passamos a menosprezar situações essenciais para a concretização da tão sonhada felicidade.

Nossas aspirações, mesmo as já realizadas, deixam de ter importância no contexto do cotidiano, passando a ser ilustres conquistas de uma vida sem sentido, criando um rastro de desilusões e frustrações.

Esse quadro tem lugar na alma das pessoas que crêem que a vida se resume única e exclusivamente numa única existência corpórea de 50, 60, 70, ou seja lá quantos anos forem, o que, convenhamos, é um lapso de tempo para uma eternidade, visto que essa é a realidade de nosso espírito.

Entretanto, mesmo para aqueles - onde me incluo - que sustentam a certeza dessa eternidade, constituida de várias existências, os vazios tomam um espaço considerável em seus corações. Isso se dá pela pouca maturidade existencial dessas pessoas, o que não quer dizer uma inferioridade moral.

Como então, dentro dessa situação, convivermos e até buscarmos a solução para tais transtornos d'alma? Através do auto conhecimento, o que abrange não só a real noção daquilo que somos como a verdadeira finalidade de nossas inúmeras experiências.

Na mesma proporção em que nos empenhamos em buscar as respostas para os "enígmas" de nossa existência, vamos alcançando aquilo que é o mais importante na realização efetiva de nossa felicidade, que é a paz de espírito, e essa paz só é encontrada quando conseguimos conciliar nossa origem biológica com nosso princípio cósmico, ou, em outras palavras, quando encontramos o elo de ligação entre o corpo e a alma. E o melhor caminho para tal conquista está na resignação diante dos fatos e na aceitação de que Deus, em Sua infinita misericórdia, sempre nos dá toda matéria prima necessária para a construção de nossa plena felicidade, que terá sua conclusão tão rápida ou demorada, de acordo com a nossa parte nesta divina obra, que é a vida.

espírito do mar
Enviado por espírito do mar em 04/06/2006
Código do texto: T169127