EU TAMBÉM TENHO MEDO.

Antigamente a gente tinha medo da caipora, um bicho esquisito que até hoje não sei a sua forma, a gente tinha medo do lobisomem, uma coisa meio lobo meio homem, Ah! Tinha outras criaturas terríveis, o saci, o boi tatá e lá pras banda onde eu nasci tinha a tal de véia chaquaeira. Não havia criança chorona que não se calasse assim que fosse anunciada a aproximação de uma dessas criaturas. Esses seres, além de comer podiam fazer sabão das crianças. Por aí vocês vão vendo como a gente sofria. Com o avanço da modernidade, “graças a Deus”, acabaram com essas criaturas, apenas o lobo mau, os duendes e as fadas malvadas sobreviveram, mas assim mesmo só assustam criancinhas com menos de dois anos.

O avanço político e tecnológico destruíram esses fantasmas da nossa infância. Em seus lugares surgiram: a “bala perdida”, os pedófilos, as drogas e os assaltantes que são as próprias crianças que antes tinham medo do saci, do lobisomem e etc. Os fantasmas do passado eram ingênuos e facilmente foram dominados e arrancados impiedosamente das nossas vidas. As criaturas malignas de hoje substituíram a poção mágica e a casinha de chocolate para atrair suas vítimas pela droga e o fuzil. No passado, bastava o afago da mamãe e o medo ia embora, e agora, sou pai e tenho que demonstrar coragem, mesmo morrendo de medo.