Ok, ok Rei Roberto. Você Venceu!!

Nunca fui muito chegado em Roberto Carlos. Quando eu era mais jovem o achava "brega", assim como as letras de suas músicas de um caráter totalmente piegas. Agradava-me muito mais a Bossa Nova com sua sofisticação harmônica e suas letras trabalhadas por poetas do quilate de um Vinícius de Morais e o psicodélico roque progressivo de Pink Floyd e Led Zeppelin, estes últimos uma espécie de sinfonia moderna e rica de imensas possibilidades.

Houve outra coisa que contribuiu bastante para o meu desgaste com o "Rei", além da sempre impiedosa e maciça reprodução de suas melodias na mídia em geral. Eram os tais dos especiais "RC" da Globo. Aquela repetição anual das mesmas músicas, o eterno e único formato familiar e hipócrita do show, traziam-me as mesmas impressões interiores que a transmissão do carnaval carioca me proporcionam: uma desagradável sensação de "Deja Vu". Tudo tão ricamente igual, como se o final de cada ano de minha vida tivesse, no fundo, sido de um tipo só.

Acontece, como todos sabem, que neste ano Roberto Carlos está fazendo seus "50 anos de carreira artística". Quando esta data épica começou a ser anunciada nos meios de comunicação, acreditem, realmente temi que não fosse conseguir sobreviver até o final das manifestações dela. Mas o que eu poderia fazer? Eu era esmagadora, avassaladora minoria. As pessoas para quem explanava esta minha aversão ao artista, sem dó me devolviam: - Você é a primeira pessoa que eu conheço que me fala que não gosta do Rei! - Sentia-me um marciano. Eu era um marciano! Este tipo de reação foi me intimidando a tal ponto de, à presença de RC nas telinhas, eu soltar apenas um triste e baixo grunhido de protesto...

De início tentava fugir das imagens como um gato assustado. Se o cantor aparecia, simplesmente desligava a televisão e ia para a internet. Mas ele também estava presente lá e em muitos outros lugares: jornal, rádio, revistas, etc. Ele aparecia do nada... Era impossível. Não tinha como fugir. Parei de fazer esse jogo de esconde-esconde e me propus ao seguinte e difícil desafio: tentar entender "o porquê" do fascínio de todos por esse cara (seria também uma forma de não ter que prestar tanta atenção assim nas suas músicas...).

A partir de então, soltei a franga. Ironicamente comecei a acompanhar as entrevistas e participações de Roberto, sua história, seus amigos, enfim, sua longa trajetória. Em roda de amigos já dava até os meu pitacos... Percebi neste processo de pesquisa duas coisas muito interessantes: que Roberto é uma pessoa extremamente, absurdamente verdadeira em tudo o que faz, principalmente no trato e no cuidado com o seu público e, outra, que mesmo que eu não o acompanhasse, suas músicas, estas sim, acompanharam minha vida ininterruptamente. Elas foram uma espécie de fundo musical em vários momentos de minha história particular. Era incrível e até engraçado lembrar-me de como cada música havia marcado uma determinada época minha e até algumas situações específicas, mesmo tendo em mim um firme controponto a renegá-las!

E foi então que o incrivelmente inesperado aconteceu: eu estava na sala assistindo o especial do Roberto Carlos do maracanã, em meio àquele processo de digestão do astro. Na telinha rolava uma carioca chuva, uma tempestade insana. Eis que entra no palco o amigo de fé, irmão camarada dele, Erasmo Carlos. Os dois se abraçam e choram. Parecia até que a chuva que desabava do céu lavava a alma daqueles dois, companheiros, sei lá, de quantas histórias. Era tanta verdade naquele pranto que não consegui resistir. Sim, eu me odiava por aquilo: me remexia na cadeira e, totalmente descontrolado, chorava junto, como que comungando do mesmo abraço em meio a eles. A cena, acreditem, para quem me conhece na intimidade, era tragicômica! Aqueles sentimentos funcionaram em mim como uma espécie de exorcismo. O dono dos poderes divinos para isto: sim, inexplicavelmente, "O Rei"

Agora que a emoção já passou, passei a admitir para mim mesmo que gosto de algumas músicas dele e, principalmente, de sua singular forma de interpretá-las. E finalmente aceito, sem sombra de dúvidas, que ele merece, e muito, todas as homenagens prestadas a ele. Viva o rei!