A última carta

“QUE DEUS TE ILUMINE NESTE LONGO CAMINHO”, esta foi à última frase daquela dolorida carta que seria a última enviada por ele para aquela mulher que tanto amou, pensou muito antes de enviar e chegou até a procurar um “isqueiro” para queimá-la, a sua mão pousada sobre o papel permaneceu por alguns minutos, o seu coração chorando não consentia o que o dono estava por fazer, mas era necessário, mesmo sabendo que do outro lado magoaria aquela linda morena, precisava por um ponto final e iniciar um novo caminho, já estava exausto depois de mais de dois anos sedento por seu amor, que impossibilitado nunca pôde entregar.

Enquanto escrevia, um enorme filme passava pela sua cabeça o momento que se conheceram (Outubro de 1976), os primeiros olhares, as primeiras trocas de cartas (mesmo sabendo que se tratava de uma mulher compromissada), e que depois viraram declarações de amor (após ela ter sofrido um pequeno acidente), o primeiro beijo, as suas inúmeras decepções, o casamento dela (Dezembro do mesmo ano), onde tentou de tudo para impedi-lo e não conseguiu (o pior fim de ano de sua vida), a notícia de sua gravidez, os dois anos seguintes onde os inúmeros encontros que marcavam via correios não aconteciam e sempre vinham com histórias (verdadeiras ou não) muito mal explicadas, os desentendimentos com as cartas mal compreendidas, o longo tempo que ficaram sem se ver e sem se escreverem (interrompido apenas no aniversário dela), as longas madrugadas sem dormir e já no final, quando ela o procurou (já separada) após um bom tempo sem se comunicarem e informou de sua segunda gravidez (naquele momento perdia toda a sua fé e o desanimo o abateu) até o último capítulo (em mais uma história mal contada) onde desconfiou do seu caráter depois da única noite de amor que tiveram (Maio de 1979).

Ainda tentou relevar, no entanto o seu amor por ela já não era a mesma coisa, não admitia essa segunda gravidez e o longo tempo de espera que terminou com essa grande decepção, ainda mais de quem sempre nas cartas demonstrava todo o seu amor por ele (onde relatava que não tinha lhe esquecido e que o amava muito), não entendia como uma pessoa convivia e conviveu por dois anos sem gostar da mesma e o pior tendo dois filhos com ele, aquilo só fez ajudar a diminuir a intensidade da paixão, que se desgastou naturalmente nestes dois anos de indecisões, dentro de si sabia que não se perdoaria se tentasse conviver com aquela mulher que um dia tanto lutou, mas que agora trazia junto de si duas crianças que não tinham culpa alguma da situação.

E depois de muito pensar, decidiu escrever a carta, a cada palavra, lágrimas borravam a tinta no papel onde renegava todo o seu amor, tão doído e tão necessário, do outro lado ao receber uma morena derramaria tantas lágrimas quanto ele derramou,no percurso ainda quis rasgar o envelope, mas seguiu em frente e diante da caixa de correios, onde durante tanto tempo só depositou cartas de amor, ficou parado com o envelope na mão ali encerrava uma estória de amor que não pôde ser correspondido e que terminou sem nem mesmo começar de verdade e com os olhos fechados (para não ver) a jogou lá dentro, aquela que seria “a última carta”.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 20/07/2009
Código do texto: T1708897
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