O mar

Ah, o mar. Em um mínimo espaço adjacente, vejo-o todos os dias. Profundo, ele traz-me a paz do horizonte; o azul da purificação. Não que o toque - pois isso nem seria possível - mas sinto-o o tempo todo, e digo ser isso mais que mera abstração. Apesar de morar tão perto, pouco o visito – me chamarão, talvez, de hipócrita por escrever tudo isso. Todavia nossa relação não é tão simplista quanto um tocar de dedos; ela é transcendental. O mar, ainda que lá do outro lado da orla, encanta-me profundamente, como jamais um mortal poderia encantar. O bater das ondas me é música; as poças, cheias de peixes, me são reflexos de diamantes; o seu olhar, casuístico, é maior que contemplação da lua, ainda que ela seja, por noites, onisciente. Porque o mar é doce-salgado; é verde; é espelhado. É, então, o mar. Um dia – certamente - partirei daqui. Sentirei saudades eternas do que vejo. Deixarei o mar. Entretanto, minhas memórias são como um amor carinhoso, pois sempre confortam. E nelas viverei por um tempo. Até que retorne, meu coração será um pedaço meu e outro do mar. Pois a esse ser posso entregá-lo sem medo, como se o entregasse à eternidade.