Favela não é o senado...

Nos anos 80 Renato Russo já dizia: “...na Favela, no senado, tem sujeira para todo lado...”

Apesar de ter passado a minha adolescência, juventude escutando Legião Urbana e ser fã da banda, discordo com Renato em comparar a Favela com o senado.

Na Favela a sujeira é física, provocada pela falta de saneamento básico, de limpeza urbana, é causada pela inexistência de infra-estrutura, pela ausência do Estado, pelo desinteresse dos políticos.

Mas seus moradores são limpos, são honestos, são pessoas de caráter, pessoas que estão ali, vivendo em situações subumanas, mas que jamais perderam a sua dignidade.

O mesmo não se pode dizer do senado brasileiro, dos seus salões de mármores brilhantes, das suas dependências suntuosas, de limpeza imaculada.

Pois pelo pouco do que tomamos conhecimento, a limpeza daquela casa é apenas física, sua sujeira não está impregnada nas paredes ou no chão, mas na alma, no coração daqueles que votamos e colocamos lá, para defender nossos interesses. Elementos que transformaram o público em privado.

Senadores que nomeiam filhos, netos, noras, namorados de netas para cargos no senado.

Cargos com salários de sete mil reais, pago com o nosso dinheiro a parentes que trabalham no senado Federal e nem sequer moram em Brasília.

Salário de sete mil reais, em um país onde a maioria das pessoas trabalham oito horas diárias para ganhar um salário de 465,00 reais, isto quando não estão desempregadas.

Senadores e seus parentes, que por meio de sua legião de advogados, querem processar a Policia Federal e a Imprensa, por estarem fazendo seu trabalho de investigação e de trazer a tona todo esse desmando sancionados pelos nefastos “atos secretos”.

Senadores, alguns, que apesar de nem serem eleitos pelo povo, chegaram ao Senado por um Estado como Minas Gerais, que já deu ao país tantos políticos valiosos. Senadores esses, que caíram no Congresso de pára-quedas, acham normal a nomeação de familiares e namorados de netas para o serviço público.

Senadores, que evocam seu passado, como se isso lhe desse o direito de ser desonesto, de usar como lhe convier o nosso dinheiro.

Um dia gostaria de viver em um país onde a honestidade no meio político fosse regra e não exceção.

Um dia gostaria de viver em um país onde o presidente, no pouco tempo que passa em solo brasileiro, não chamasse os senadores de pizzaolos, que injustiça com esses trabalhadores, que trabalham duro e ainda fazem um prato tão delicioso, ao contrário daqueles que perambulam pelo Congresso. Onde o presidente da República não fosse o “pizzaolo-mor”, que faz tudo para se perpetuar no poder, mesmo que tenha que fazer a “amarga” pizza junto com seus seguidores e enfiá-la na nossa goela abaixo.

Um dia gostaria de viver em um país em que os nossos cidadãos fossem conscientes, que soubessem e lutassem pelos seus direitos e não precisassem trocar sua dignidade por bolsa-alimentação, bolsa-educação, bolsa-pão.

Talvez não viva tanto para isso, mas espero um dia que a minha filha ou netos vivam num país que tanto o senado, quanto a Favela não tenham tanta sujeira.

(o motivo de senado e presidente da República estarem escritos com letra minúscula, é devido ao fato que essas duas grandes instituições passam por uma pequenez nunca vista antes na história deste país.)