O coração é uma anta

QI. Quociente de Inteligência, um dado subjetivo mas pretensamente científico, que pode ser medido por meio de testes. As escalas obtidas classificam o indivíduo em categorias que vão desde o superdotado até o débil mental (já vi até a denominação “cretino”, que me fez rir um pouco). Mas, como se mede a inteligência? E o que é a inteligência?

Nas minhas buscas rasas, apenas para argumentar uma crônica despretensiosa como esta, encontrei várias definições. A inteligência, resumindo, seria um conjunto de habilidades, e entre elas - e este é o dado que mais me espantou – sempre está “a capacidade de aprender com a experiência”.

Cheguei a uma conclusão estarrecedora: o coração é débil mental. Cretino. Na verdade uma anta, que se mostra incapaz de aprender com a experiência. Depois de uma vida já bem longa, não parece razoável sofrer pela precária condição de escolha de um coração burrinho, que se apaixona por quem sabidamente não merece. Decepcionante! Todos esses anos de escola, grandes investimentos nesse filho especial que tanta atenção teve durante toda a vida, e olha só o que ele apronta. E o pior: toda a família sofre com suas escolhas pouquíssimo inteligentes. A mente perde sua capacidade de concentração, o corpo perde peso, a saúde fica debilitada, os olhos vivem marejados e a alma entristece. Uma verdadeira lástima.

Como fazer para enfiar dentro de um coração um mínimo de discernimento? Como tirar esse órgão da lama da cegueira e fazer com que ele acorde? Por que sofrer as conseqüências de escolhas imbecis de um adolescente de meia idade desplugado da realidade, que além de ter tomado bomba na matéria ainda continua alheio, ouvindo músicas românticas, vendo fotos, relembrando momentos – e levando à ruína todo o resto do corpo?

Acho que não há pedagogia que dê jeito nele. Inútil insistir. Resta a constatação de que, a cada desilusão motivada por suas escolhas cretinas, ele fica menor, pois um pedaço dele se vai. Um dia, o coração ficará tão pequeno que talvez não cause maiores transtornos. Ou quem sabe ainda haja esperança e finalmente esta anta aprenda?