A boneca

Desde que entrou naquela empresa, aquele armário era um mistério, nunca fora aberto na presença de ninguém, entre os funcionários rolavam boatos de tudo quanto é gênero, dólares, euros, ouro, jóias, cartas secretas das amantes, partes de alguma pessoa, na imaginação da “peãozada” tudo era possível de se achar ali dentro, o enigma começou a ser desvendado quando o patrão “abonado” resolveu realizar uma reforma geral na fábrica, iniciando justamente pelo vestiário, a frase foi direta e bem clara:

- “Quero os armários vazios, limpos e destrancados até sexta-feira”

Não foi necessário repetir duas vezes, na terça-feira já não tinha mais nada nos armários, vazios, limpos e destrancados como queria o “simpático” patrão, o único que continuava da mesma maneira era o “dito cujo”, que permaneceu assim no decorrer da semana até o dia pré-estabelecido, para confirmar a sua ordem o dono quis acompanhar pessoalmente o vestiário, deparou-se com o “defunto” e furioso chamou todos os empregados (uns trinta):

- “Por acaso tem algum engraçadinho entre vocês? Eu pedi para esvaziar os armários e destrancá-los, de quem é este aqui? (apontando para o “meliante”), traga o pé-de-cabra agora, eu mesmo vou estourar o cadeado”.

Em cinco minutos o objeto estava na mão, ninguém mais do que eles, curiosos para saber o que se encontrava ali e depois de tanto tempo, desejavam que ele arrombasse o “maledeto”, força dali e de cá, a surpresa, uma puta bonecona inflável pulou em sua direção, estrategicamente preparada para ser agarrada na abertura do armário, o espanto foi geral, o grito de OOOOHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!! ecoou por toda a fábrica, encabulado com a situação conseguiu se desfazer com dificuldade da bonecona e não falou mais nada, simplesmente a pegou e jogou no lixo. Foi o fim de semana mais longo da vida deles, nunca pediram para o sábado e domingo passarem tão rápidos, afinal necessitavam saber de quem pertencia aquele “objeto”, comentários correram por semanas, souberam tempos depois que a “boneca” tinha um dono inusitado, o pai do patrão, viúvo há cinco anos e que provavelmente se divertia com ela nas noites de solidão.

Constrangido e sem o seu “brinquedo”, ele que gostava de se divertir com todo mundo, não aparecia mais na fábrica, todos já sentiam a falta dele, do seu bom humor, do modo como os tratavam (diferente do filho) e decidiram se solidariarizarem com a causa, diversas caixas contendo bonecas de todos os tamanhos, etnias e modelos chegavam endereçadas para a empresa, maluco o patrão não sabia mais o que fazer, em cada armário havia uma bonecona devidamente posicionada, fez reuniões, ameaçou dispensar todos, mas não tinha jeito, mais e mais bonecas chegavam ao local e para não mandar todo mundo embora, também aderiu a brincadeira e comprou uma para ele, moderna, em tamanho natural, com material de qualidade e movida a bateria, mais tarde ela se tornaria a mascote da empresa.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 26/07/2009
Código do texto: T1720882
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