A CATARSE ATRAVÉS DA MÚSICA

Por um acaso, hoje pela manhã, ouvi a música Índia, que escuto desde que entendo por gente. A primeira vez , ainda muito pequena, num circo em minha cidade natal, na voz dos inimitáveis, Cascatinha e Inhana que gravaram cento e tantas músicas. Eu não sabia quem era a Cascatinha ou o Inhana ou o contrário, só sei que achei graça no nome, mas nunca me esqueci daquela canção. Também porque minha mãe, como eu, gostava de cantar. Voltando aos seus intérpretes, eles formavam uma dupla sertaneja que se tornou famosa nos anos 40, cantando em feiras e circos do interior paulista. Daí expandiu o sucesso por todo o Brasil.

Além da citada faixa, Índia, ela também cantava “Meu Primeiro Amor” e “Colcha de Retalhos”, de que ainda sei até hoje a letra, uma canção de amor em sua forma mais simples e pura.

Com isso, quero dizer da importância da música para a evasão no tempo e no espaço, como podemos viajar nas melodias e nas letras das canções, que trazem em nós, e até nós, lembranças aparentemente perdidas, mas que, de certa forma, nunca nos abandonaram, apenas adormeceram, até que uma motivação as desperte e flutuemos através de nossa própria história interior. Essa viagem vale por uma terapia, para mostrar que ainda estamos muito vivos e que a alma e o coração não envelhecem, passe o que passar, haja o que houver.

Mais do que eu possa dizer, senti a sensação que a alegria dela cantando trazia um sinal de que tudo estava bem, de que a vida que levava lhe bastava e que cantar traduzia seu estado de espírito naquele momento. Mas a sua voz ainda ecoa nos meandros de minha memória, invade meu coração, minha bagagem sensorial, me acende e me traz sensações de felicidade, ainda que tardia, tendo falecido no ano de 1980.

Herdei de minha mãe esse cantar com sentimento, com sinceridade, sentindo cada palavra da música, adaptando-a e encaixando sua mensagem em um fato da própria vida, num transportar de vivências que a música pode comportar. Sei que num futuro próximo, meu filho passará por isso, através do que me ouve hoje e isso me apazigua.

A música sempre faz parte da vida de cada um de nós, é como se nosso existir fosse acompanhado de uma trilha sonora permanente, tornando-se impossível ouvir uma melodia contemporânea ou de outrora, sem a associar com algum acontecimento vivido e experimentado. E isso põe em dia os fatos de nossa vida, na ordem seletiva proporcional à importância que atribuímos a eles.

Nesta manhã, passadas as emoções iniciais, sinto que os ausentes podem se transportar para onde estamos, nas asas de nossos sonhos de olhos abertos ou não, pelo poder que o amor nos confere, de nunca se distanciar sejam quais sejam os obstáculos e impossibilidades dessa vida.

Que inumeráveis canções ainda sejam compostas, que incontáveis pessoas neste planeta ainda se deixem levar pelos sentimentos excelentes, para transformar a própria vida e de outrem em algo mais leve, mais digerível apesar de, infelizmente, alguns humanos optarem pelas piores faixas no disco do viver. E que Deus esteja sempre presente em todas as opções, para que em cada composição, cantada ou recitada, possa com Seus magníficos dedos espargir gotas de amor e de alegria, como um reflexo de sua perfeita natureza.

“Índia seus cabelos nos ombros caídos, negros como a noite que não tem luar...”