ESTUPIDEZ HUMANA

Meu primo Luciano era terrivelmente danado, sujeito bom de coração, mas folgado. Gostava de chegar a casa na hora do almoço e acabava ficando pro jantar e assim foi durante a infância e a adolescência. Com seus 12 anos de idade mudou-se para a capital de Mato Grosso. Lá, seu passatempo preferido era “pegar às escondidas” as logomarcas dos automóveis nas ruas de Cuiabá, na parede do seu quarto havia uma coleção, até que em uma de minhas visitas descobri e fiz a denúncia a minha tia e acabei com a festa.

Passaram-se alguns anos. O primo já com seus dezessete anos, apareceu a minha casa para uma visita e ainda trouxe um companheiro, outro primo, mais ou menos com suas mesmas “qualidades” e como sempre... “Primo! Prima! Tia querida! Vim dar um passeio”. Ora eu não podia permitir aquela hospedagem, com certeza era mais serviço pra minha mãe, mais despesas e os hábitos dos primos não eram do meu agrado. Fui imperativo, um verdadeiro chefe da casa. “Aqui não! Vocês vão arrumar outro lugar pra ficar”. Os primos decepcionados foram embora. Fiquei sabendo mais tarde que a avó do Luciano os acolhera.

Tia Aline, a mãe do Luciano, não sei se ela ficou sabendo desse episódio. Pessoa maravilhosa, generosa, minha segunda mãe, sempre me recebeu com alegria em sua casa. Certa vez, deixou filhos, marido e casa, por 45 dias, para acompanhar e confortar a minha família nos últimos dias de vida do meu pai. Outra vez, minha casa foi invadida por uma enchente, mais uma vez minha tia estava ali para amparar-me e sua casa foi o meu abrigo. Acometido de hepatite, foi ela quem me socorreu, levou-me ao médico, salvou-me a vida. Ela nunca mudou seu tratamento para comigo.

O remorso me corroeu por quase vinte anos, durante esse tempo eu procurei uma forma de pedir-lhe perdão. Um dia, festa de aniversário, sentamos em volta da mesma mesa, eu aproveitei da oportunidade e abri meu coração, contei o acontecido e lhe pedi perdão, ela com todo carinho disse apenas: “esses meninos eram muito danados” e continuou alegre, sorrindo e eu fiquei com o coração e a consciência aliviados. Faz muito tempo que não vejo meu primo, mas... Vai que ele venha a ler este texto, então... Querido primo perdoe-me!