O VENTO E A PÊRA

Visandolho na matilha, eu quero o fogo brando do vulcão; o vento balança o pé de pêra, nunca vi um pé de pêra, mas escrevo, nunca vi um pé de pêra, quem escreve é assim: fala do que não vejo e o que vejo tenho uma visão diferente dos outros que vêem, o vento trouxe em seu bojo o sal, a luz das moças, a meia volta da criança, a volta inteira de um bêbado, a corda para amarrar o cavalo, a prisão dos porcos, a leitura do anemômetro, a vaca de seu José, seu João e a esposa estavam indo a missa, o carro de boi que não anda com o vento, a pulga que desistiu de sair do pêlo do cachorro, a esteira que ficou do lado de fora e a menina esperta vai pegar para guardar vem chuva, a bicicleta de carga usada pela levar água mineral, a cunhada que queria vestir a mini-blusa cor de caqui, a bolsa que ficou pendurada na cumeeira da casa, a calça jeans que foi para o varal saiu da máquina de lavar um pouco molhada, a sabiá não cantou hoje, a mandinga não vai ser feita, a torre não vai ser monitorada, as galinhas não querem milhos, o macaco sossega no galho que flamba de uma arvore em extinção, o vai e vem dos moços impacientes, o ambulante que carrega na cabeça um xale, a preguiça que acaba de chegar ao seu destino, um menino solta pipa com linha de cozer, a verdade aparece em tempo real, tudo fica cinzento, um depoimento salva a vida de uma galinha da angola, o fraco e o forte se encontra para brindar o vento, a lua franzina aparece as 17:30h, a arapuca de pegar rolinhas está armada, mas só pega camaleão ferro, a mosca volta pro seu esconderijo, um dito popular é dito em voz rebuscada, a dor vai embora, a alegria não chega, a raposa toma susto com o esquilo, o tamanduá passeia cavernoso embaixo do pé de limão, ainda que falte algo pra escrever, o vento e a pêra debaixo do céu firme e em silêncio, é intrínseco a nossa vida que quer um lugar seguro para sentar ou deitar seu corpo, e conversar do respeito que devemos ter pela natureza que quer dentro do seu jeito próprio o melhor para todos nós.