"PAIXÃO DE CRISTO" (UMA REINVENÇÃO POLÍTICA)

“Isso é uma ficção, com interpretação livre, sem intenção de ferir qualquer crença". ( Autora - Valdeiza V. Gomes - Boa Vista – Roraima – Brasil )

O marceneiro José, a dona de casa Maria, e o filho deles, JESUS CRISTO , moravam num lugarejo onde sequer tinha energia elétrica, água encanada ou qualquer saneamento básico.

Nesse ambiente, de quase total isolamento, para lavar roupas e outros afazeres domésticos, a mulher ainda tinha que puxar água de um poço, cozinhava à lenha e varria o chão, de barro batido, com vassoura de cipó (improvisada).

A “micro empresa” do homem era uma marcenaria de fundo de quintal. Por trabalharem em casa, José e Maria raramente saíam de casa, mas não iam muito longe; ao contrário do filho, já adolescente, que conhecia quase toda vizinhança ( um pouco afastada) onde recebia várias informações, inclusive sobre as modernidades como: "shopping" e roupas de marca.

Sabendo disso, o rapaz percebeu que havia outro mundo desconhecido e se rebelou. Resolveu sair de casa, em busca de dias melhores. Queria ter condições para dar moradia digna e aposentadoria aos pais.

Ainda sem saber que profissão seguir, ou o que fazer para atingir o objetivo, o então adolescente saiu a pé. JESUS CRISTO não tinha transporte, nem dinheiro para pagar passagem para algum lugar, pois sequer sabia para onde ia.

Como saiu sem rumo, também não conseguia carona.Então aproveitava para refletir sobre uma forma através da qual pudesse conquistar Poder e ter dinheiro.

Foram 17 anos de caminhada solitária, tempo suficiente para conhecer muitas pessoas, diferentes culturas, e aprender vários idiomas. Quase no final da jornada, teve um “insight” : decidiu ser político.

JESUS fracassou nas duas primeiras tentativas de executar seu plano. Indignado, espraguejou contra um lugarejo: “Essa cidade vai afundar e queimar no inferno”.

Quando chegou na Galiléia , contou sua história, principalmente sobre a longa caminhada, na maior parte, descalço. Admiradas com a resistência dele, algumas pessoas passaram as informações adiante. Como a notícia se espalhou rápido, centenas de curiosos queriam conhecê-lo e passaram a segui-lo.

Percebendo ter conquistado pobres e oprimidos, CRISTO entendeu que, em vez de tomar dinheiro do povo através dos impostos, a estratégia de sua campanha seguiria a linha social, cujo “slogan” era : “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Ele começou os comícios com verbas doadas por eleitores anônimos (que não queriam informar a origem do dinheiro).

No Mar da Galiléia, encontrou pescadores desiludidos e os presenteou com cestas básicas contendo peixes . Em outra ocasião, doou milhares de pães, e em vez de água, mandou servir vinho.

Dias depois, no Monte das Oliveiras, inscreveu-se no Partido número 33 - PPJ (Partido Político de Jerusalém) . Ocasião na qual pôde deduzir: “Bem aventurados são os pobres de coração, porque deles depende minha eleição”.

O presidente do Partido, João Batista , foi quem registrou os nomes com os quais o então candidato poderia ser votado : JESUS CRISTO - JESUS – CRISTO – JC E JCRISTO, e respectiva logomarca. Ao passar na convenção, o candidato, convidou os líderes do Partido para comer pizzas e tomar cervejas (ceia).

A campanha foi seu verdadeiro calvário , já que um dos seus correligionários, Judas Escariotes, barganhou politicamente, 30 mil dólares, para convencer JESUS quão perigoso era atuar na oposição. Um beijo , no lado esquerdo do rosto de CRISTO sinalizou à Situação que Judas não teria limites para conseguir um acordo.

Quando as pesquisas eleitorais apontaram a possibilidade de JC vencer as eleições, veio a tentação, (com oferta de milhões de dólares), para que mudasse de lado. Ele não aceitou por entender que, ao ser considerado como candidato do povão, seria óbvia, sua eleição.

Confiante no “marketing”, JESUS CRISTO resolveu mostrar aos eleitores que tinha coragem suficiente para enfrentar os poderosos, desde os mercadores - dos quais destruiu bancas no Templo- , até César, a quem mandou um recado: “ A César o que é de César” . Com tal atitude, excluiu , em definitivo, qualquer hipótese de negociação com os privilegiados.

Informado dos acontecimentos, César não gostou do desafio. Decidiu: para atingir JC, iria perseguir seus aliados. E, mesmo sem precisar de lógica para agir na força, mandou grampear os telefones de todos.

O então candidato majoritário. soube de tal estratégia, cuidou de avisar a dúzia de correligionários, principalmente Pedro , explicando-lhe que, no mínimo três vezes, a Polícia Federal iria procurá-lo para interrogatório a respeito de crimes políticos amplamente divulgados pela mídia. Mesmo com tantas evidências porém , com medo da prisão, Pedro só repetia: “Só falo em Juízo, diante do meu advogado”.

Nesse ínterim, como forma de represália, o presidente do Partido, João Batista, foi assassinado. Para desviar a atenção sobre o verdadeiro motivo do crime, apontaram uma mulher como culpada. Como suposta prova, mandaram fotografá-la com a cabeça da vítima, numa bandeja.

Enquanto isso a elite já tinha “comprado” toda imprensa com propósito de “plantar ” notícias falsas como forma de desarticular a campanha de CRISTO. O plano deu certo. Diariamente, uma chuva de cartas anônimas, e-mails e telefonemas anônimos, caíam nos veículos de comunicação.

Não teve jeito, JC foi preso, açoitado por soldados, sob acusação de crime eleitoral (distribuir cestas básicas e fazer comícios poucas horas antes da eleição).

Todavia a burocracia atrasou o avanço do processo. Os cabos eleitorais de JESUS ( com medo da prisão) tiveram que continuar agindo , mas desta vez, na surdina.

No dia do julgamento, o Tribunal Eleitoral sofreu pressões para condenar o réu, que tendo dinheiro, não podia pagar advogado porque todos consideravam que, diante da situação, a causa estava perdida. Nem a Defensoria Pública quis nomear um profissional para o caso pois, a ação da defesa, era, literalmente , impedida pelos poderosos. Pelo mesmo motivo, defensores “ad hoc” optaram por responder processo, por desobediência á ordem judicial.

Esse mesmo temor fez com que um juiz designado, Pilatos, alegasse “foro íntimo” para não desempenhar seu papel. E, através de um gesto banal, entregou o réu para uma “suposta” população dar o “veredicto” . Só quando era tarde demais, descobriu o equívoco pois aquelas pessoas eram contratadas pela oposição, justamente para provocar, o máximo que pudessem, até o referido resultado.

A pressão foi certa: Sem direito à ampla defesa, JC foi condenado. Teve os direitos políticos cassados por vários anos , tempo que durou sua crucificação. Após esse período, ele voltou (ressurreição) a candidatar-se e, com a lealdade dos seus eleitores, venceu.

Por isso, seu “marketing” ( candidato pés no chão, na defesa dos fracos e oprimidos) ainda é copiado.

Contudo, a glória trouxe a maior preocupação: (coroa de espinhos) medo de perder o poder. Por garantia, nomeou vários parentes como secretários de governo e colocou, em cargos de confiança, milhares de indicados por políticos.

No discurso de posse, já pensando em reeleição, JESUS CRISTO voltou-se para o povo e disse:

“Minha verdadeira PAIXÃO é o PODER. Graças aos meus amados... eleitores, estou AQUI. Vocês, por favor, continuem AÍ, até as próximas eleições – em 2006”.

O que mais se pode esperar dos políticos? (apocalipse)

Por fim, JESUS CRISTO pode ter sido: prefeito, governador, deputado estadual ou federal, senador, e, talvez, até Presidente de um País.

Roraima
Enviado por Roraima em 10/06/2006
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