UM DIA ANTES DO GRANDE DIA

Hoje é quinta feira, dia 30 de julho. Amanhã será a grande noite: o lançamento do meu livro “Um Olhar Sobre O Cotidiano”. Estou tenso. Nunca pensei na minha vida que lançar um livro fosse tão desgastante, tanto fisicamente quanto mentalmente. Pense num estresse danado!

Lançamento de livro deveria ser menos complicado. O que tem de detalhes, coisinhas para se fazer até o chamado dia “D”! Para começo de conversa, tudo tem início quando ele fica pronto, lá na gráfica. A ansiedade já toma conta do seu corpo. Você quer vê-lo. Carregá-lo no colo (está pensando que é mentira?), sorrir para ele com a cara mais boba do mundo. Alisá-lo. Isso mesmo. Você o toma em suas mãos, olha-o com aquele olhar de pai e passa a alisá-lo. E o sorriso vai de canto a canto da boca. Você fica bobo.

Bem, mas isso é o lado gratificante. Os louros da sua vitória. O orgulho de se ver entre as páginas, uma por uma, com a sua marca, seu estilo. Como num DNA. E como se fosse, de fato, um filho, você sai mostrando-o para todos os seus familiares. Com excessivo cuidado. Quando alguém o olha e o abre com menos zelo, você já se impacienta e toma-o das mãos dessas pessoas tão sem cuidados. Nesses momentos você mistura orgulho com atenção, carinho com devoção.

Quando passa o momento de euforia e você começa a planejar o lançamento dele, ou seja, mostrá-lo para a sociedade – como se fosse numa festa de debutantes -, aí é que se percebe o quanto, assim como um filho de verdade, ele precisa de acompanhamento até o dia de sua estreia.

Primeiro passo: fazer a lista de convidados. É pela lista de convidados que você tem uma ideia de quantas coisas serão necessárias para dançar a valsa de apresentação. E, aqui comigo: eu duvido que você faça uma lista em que você não deixe de fora vários amigos seus! Parece de propósito. Depois, vem a confecção dos convites. Aí entra o designer gráfico (nome bonito) para fazer a arte. Gente, isso dá uma dor de cabeça! O cara te manda uma. Você gosta, mas precisa refazer um pequeno detalhe. Manda de volta. Ele, o designer, refaz. Como ele não tem só o seu trabalho, ele corre contra o tempo e quer, de você, que você corra com ele. Resultado: ele te liga na hora que você está de saída para o trabalho ou, o que é o mais comum, na hora que você está tomando banho. É um Deus nos acuda! Mas, no final dá certo. Você aprova.

O terceiro passo é entregá-los. Olha, saber os nomes de quem você conhece, é fácil. Agora, saber onde todos moram, é difícil à beça. Podem acreditar no que estou dizendo: nesta última semana eu já rodei, só para entregar convites, quase 300 quilômetros. Andei por ruas que eu jamais pensei em existirem. E a entrega do convite é uma boa: você chega na casa do seu amigo, ele tem se mudado. Ou então, como já fazia tempo que não o via, você esquece que tem mais convites para entregar e acaba matando a saudade por longas horas de conversa fiada. O saldo disso? Você só entrega um convite. Mas vale a pena. Conversar com um amigo não tem tempo cronometrado, tipo fórmula um.

No quarto passo a coisa engrossa. Preparar a recepção para os convidados. Pensa dali, escolhe de acolá, desiste de todos. Faz reuniões. Procura se aconselhar com quem já lançou um antes. Pesa tudo. Finalmente, o local é escolhido. Um detalhe: o local é um ponto chave. Tem que se adequar às necessidades de seus convidados. Por exemplo: nunca escolha um local onde possa haver o pretexto para não se ir.

Depois disto tudo, vem o indispensável: o buffet (porque tinha que ser em francês?). Olha, quando você bota na ponta do lápis o que se precisa, você fica “besta”. É muita coisa! Mas, você quer o melhor para seus amigos. Então, qualquer esforço é fichinha, pois ter amigos já vale a pena, principalmente, numa das noites mais felizes de sua vida.

Como disse, no início da crônica, hoje é quinta-feira e o meu editor me cobrou (como sempre faz todas as quintas-feiras dos últimos quatro anos) a remessa imediata do texto. Isto significa dizer que domingo quando ela estrear no caderno Expressão do jornal Gazeta do Oeste, eu já terei autografado o meu livro para o meu círculo de amizades, respirado aliviado e, com a certeza de que os textos contidos nele estarão sendo lidos numa proporção igual à venda dos jornais onde esta crônica está sendo postada.





 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 02/08/2009
Reeditado em 06/12/2011
Código do texto: T1732480
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