Série "Ditados na berlinda" 18: Quem semeia vento, colhe tempestade?

Diariamente nos indignamos com a impunidade que grassa na política, vendo com mais freqüência do que seria razoável aqueles figurões com a ficha suja até a tampa sempre se saindo bem – aliás, infinitamente melhor do que a grande maioria trabalhadora que paga seus impostos e vive com grandes esforços. E então pensamos: onde está a justiça? Onde está a tempestade que esses semeadores de vento tão insistentes deveriam colher?

Em nossa vida privada, o cenário se repete. Muitas vezes semeamos amor, carinho, compreensão, tolerância, e nem sempre colhemos seus frutos. Ou então, ao contrário, alguns vivem semeando vento e colhendo belos dias de sol... Novamente nos perguntamos: qual será o paradeiro da justiça? Será que está apenas acima das nuvens?

Se quem semeasse vento colhesse sempre tempestades, a justiça se faria visível, mas não é o que acontece; ao menos, não na totalidade das vezes. E certas exceções nos deixam profundamente desanimados, porque não ver o resultado da colheita chega a nos fazer querer desistir de plantar. Nós, agricultores amadores que nada entendemos dos fenômenos da natureza, apenas esperamos com naturalidade os frutos de nossas sementes...

Porém um amigo muito querido, a quem confidenciei estes devaneios, sabiamente me disse que também não é o ato de semear o causador de nossos insucessos, mas muitas vezes o solo em que depositamos nossas sementes. Não adianta semear, por exemplo, “uvas num solo onde só dá soja”, ou brisas mornas de primavera num inverno ártico. Assim, talvez seja melhor escolher bem onde depositar nossas esperanças, para que possamos ter um retorno compatível. Ou, melhor ainda: segundo ele, continuar semeando coisas boas, independentemente do resultado. Se calhar de caírem num solo propício, já terá valido a pena.

Quem semeia vento nem sempre colhe tempestade, assim como quem semeia luz nem sempre colhe um belo arco-íris. Estamos sujeitos aos caprichos dos fenômenos da natureza, principalmente da natureza humana, e às insondáveis variações de pressão, umidade e temperatura de almas diversas. O clima, sem dúvida, só pode ser imprevisível.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Fenômenos da Natureza

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