Obstáculos do Músico Brasileiro

É preciso desabafar! Não é fácil ser músico (verdadeiro) no mundo de hoje. Ainda mais no Brasil! O sujeito quase nunca é levado a sério quando resolve encarar esse ofício. Os familiares, geralmente (e são os primeiros a opor-se), não aceitam bem uma decisão dessas. Assim, mais do que um trabalho, a música torna-se uma profissão..., de fé! O artista tem que buscar a todo instante seu reconhecimento, esperando sempre pela emissão de um juízo de valor, e porque não dizer, de preço?! O melhor de tudo seria a aprovação geral por parte do grande público, mas isso é bastante difícil, e, quase nunca representa a aceitação de seu trabalho como uma forma de arte – de um lado, tem-se que agradar ao povo, de outro, à crítica (especializada ou não). Mas, o pior de tudo é se a tua produção não pode ser apreciada por não encontrar espaço nos meios de comunicação! Daí o poderio das gravadoras! As detentoras do poder econômico capaz de fazer teu som tocar nas rádios. No fim, o teu fã não compra, ou, pirateia o teu CD, porque o original está muito caro!

São poucos os que, quando pequenos, afirmam: “Quando crescer quero ser músico!”, não porque não seja atraente ou nobre, mas sim, porque a criança, em seu recente “banco de dados” – formado por conceitos inacabados, ou influenciado pela vontade dos pais – não reconhece a música como uma possível profissão. É claro que existem as exceções, e, até mesmo, os pais que tentam obrigar seus filhos, sem o mínimo talento, a serem algum tipo de pop star fabricado. Em geral, o que acontece nesta fase em que as crianças “escolhem” suas futuras ocupações é o desencorajamento por parte dos pais, e assim, milhares de enfermeiras, aviadores, bombeiros e professoras, da mesma forma, jamais realizarão seus sonhos de infância. Quando o sujeito atinge a adolescência, o gosto pela música irá ressurgir, mas, provavelmente, muitos pais irão convencer seus filhos a encarar algum tipo de cursinho profissionalizante ou alguma universidade para realizar seu sonho de ter um filho advogado, médico, etc. A esta altura alguns pais talvez aceitem a música como um tipo de passa-tempo cuja função principal seja a de afastar seus filhos de algumas mazelas do mundo moderno, como sexo e drogas. Mas ainda resta o perigo do ‘rock’n’roll’, e, por isso, outros muitos irão proibir seus filhos de fazer “aquele barulho” com os amigos, temerosos de que isso possa levá-los à “perdição”!

Vencidos os entraves para ser reconhecido como trabalhador da música, o indivíduo precisa, realmente, profissionalizar-se, ou seja, tornar-se bom naquilo que faz. Para tanto existem dois caminhos: tornar-se um autodidata, ou procurar bons professores, tentando driblar um sem número de mestres charlatões. Alguns resolvem apelar ao “arroz com feijão”, adaptando as músicas à sua capacidade reduzida de executá-las. Para aqueles que vivem da noite, o mercado fervilha de tanta “concorrência desleal”: trabalhadores pouco aptos e que se vendem por qualquer ninharia a contratantes, muitas vezes, analfabetos musicais e/ou inescrupulosos, que vendem gato por lebre a um público pouco exigente! Assim, o músico verdadeiro encontra muitas dificuldades para ser reconhecido e valorizado em seu meio, vendo-se obrigado, muitas vezes, a “vender sua alma” para empresários e produtoras a fim de manter-se no mercado.

Atuando em um mercado cada vez mais concorrido, o músico compositor, por exemplo, vê-se quase obrigado a compor músicas e recorrer a estilos “megapopulares” para agradar a um grande público ludibriado pelo terrível cartel dos meios de comunicação brasileiros. Estes, em grande parte, promovem música de quinta categoria a status de símbolo da “criatividade e alegria” nacionais. Por outro lado, se o músico optar por um estilo mais especializado e restrito, certamente, sofrerá na mão de críticos que nada produzem, mas, adoram promover-se destruindo a produção alheia. Já o “artista megapopular”, sequer ficará preocupado com a crítica famigerada que alega sua inexpressividade aos quatro ventos (por meio da escrita, pois, geralmente, não têm acesso à rádio e à TV), já que o seu querido público, “felizmente”, não lê!

O maior desafio, no entanto, é o que enfrenta o músico compositor que tenta tornar conhecido o seu trabalho. Não basta que seja música de qualidade nem que o estilo esteja no auge da aceitação popular, e, conseqüentemente, da exploração radiofônica. É preciso ter dinheiro, ou uma gravadora forte, afinal, a maioria das rádios tira proveito dos lucrativos “jabás” pagos para lançar novos artistas, colocando suas músicas na boca do povo. Por conseguinte, as gravadoras repassam os custos para o preço dos CDs, que chegam ao consumidor final com um preço absurdo, alimentando o mercado dos piratas e diminuindo ainda mais os já pequenos valores revertidos ao artista. Esta situação é amplamente criticada por alguns artistas que abandonaram o sistema vigente para vender CDs “alternativos”, em bancas de jornal e pela internet, inovando e inaugurando uma situação sem precedentes no mercado musical.

Por fim, a conclusão inevitável é que a profissão de músico precisa ser mais respeitada. É lógico que existe nisto uma relação comercial, que, por sua vez, deveria ser pautada e valorada pela qualidade – a boa música não deve ser produto raro. A questão é: Como valorizar o bom profissional da música sem antes reavaliarmos nosso conceito de arte? Chegou a hora de encontrarmos novas saídas para que a liberdade de expressão, que caracterizou as duas últimas décadas em nosso país, não se torne libertinagem, e que esta liberdade não fique apenas na conversa daqueles que comandam o “show” e nos mostram apenas o que julgam rentável.

Há tempos que as aparições do Caetano Veloso na TV, por exemplo, deixaram de ser celebrações da verdadeira música brasileira (afinal, nem ele parece mais o mesmo!). Por outro lado, temos que admitir que, atualmente, a nossa Música Popular Brasileira (admitindo o que é realmente “popular”!) não passa de algumas “mótinhas”, “pocotós” e “festas no apê”, canções mais vendáveis e fáceis de compor e tocar.

Mauricio Micharay
Enviado por Mauricio Micharay em 06/08/2009
Código do texto: T1739603
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