'Fama' de músico no Brasil

E, mais uma vez, a mídia “não-especializada” determina os padrões da música consumida no Brasil!

Sem querer apagar os méritos do programa “Fama”, da Rede Globo, no sentido de instrução e formação dos poucos e felizardos cantores que participam daquela incontestável vitrine, penso que os métodos de seleção são, por vezes, pouco claros.

Todos os participantes são devidamente “adestrados” em diversas técnicas, proporcionando uma maior desinibição e performance vocal. Assim, comprova-se uma melhora considerável nas apresentações a cada etapa do programa.

Apesar de não acompanhá-lo assiduamente, percebo alguns fatos bastante curiosos. Por exemplo, muitas das vezes os concorrentes tiveram que interpretar músicas que não eram tão próprias ao seu tipo de voz. No entanto, o João Sabiá, sempre que pôde escolher as músicas, optou pelo estilo “samba rock” (popularizado por Jorge Benjor), com o qual é mais familiarizado. Já, o cantor Tiago interpretou toda e qualquer música com o mesmo estilo sertanejo, que lembra bastante o Leonardo! Não sem espanto, verifico que ambos ficaram entre os três finalistas, enquanto o vozeirão do Ivo ficou de fora – e olha que os jurados o indicaram algumas vezes para o “paredão”. Como o próprio Ivo previra que, entre os demais participantes, seu estilo sofreria maior preconceito, foi eliminado pelo público na primeira oportunidade, frente a uma concorrente, a meu ver, bastante inferior – que, curiosamente, já havia conquistado imunidade em uma das etapas, e que, logo depois do Ivo, foi também eliminada.

Não deveriam ser avaliadas a qualidade vocal do concorrente e sua habilidade em interpretar um repertório variado? Se assim o fosse, o Ivo estaria de parabéns, por ser o dono de uma poderosa voz e por interpretar difíceis canções da MPB, enquanto as suas especialidades eram o blues e a soul music. Afinal, há critérios claros para a pontuação dos participantes em cada apresentação, por parte dos jurados? Pois se existem, deveriam ser apresentados ao telespectador, para que este compreendesse os resultados e aprendesse a avaliar as qualidades de um bom cantor.

Será correto deixar que o público leigo – que é, em sua grande maioria, influenciado pelo mau-gosto musical que se propaga na mídia em geral – decida o destino daqueles participantes quando há a falta de uma unanimidade como a Vanessa Jackson (vencedora do 1° Fama)?

Ainda bem que, mesmo os eliminados do programa terão sua projeção assegurada no panorama musical brasileiro! A propósito, alguém ainda ouve falar dos demais artistas do 1° Fama? Porque nem mesmo da Vanessa ouve-se algo desde que ela disse umas verdades sobre certa ‘cantora’ que agora está brincando de apresentadora num desses canais de TV!

E assim segue o “Gran Circo Global Brasileiro”, que à semelhança do mercado mundial, dita o que deve ou não ser sucesso. A diferença é que aqui, geralmente, quando alguns ‘artistas’ ou determinado estilo é cultuado à exaustão, nos sentimos “engessados”, e, praticamente, obrigados a consumir o que todos consomem por pura falta de opção.

Mauricio Micharay
Enviado por Mauricio Micharay em 07/08/2009
Código do texto: T1741876
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.