O Milagre das Garças da Lagoa da Fazenda

Parecem estátuas sobre a lagoa tomada de bananeiras d'água e flores violetas. Algumas contemplam o horizonte movimentado da avenida, outras ficam olhando o peixe dar mole ao seu bico amarelo e longo. Elas voam, se vão e voltam como se nunca tivessem saído dali.

Elas sobrevoam nossas cabeças tão preocupadas com o amanhã. Elas pousam leves sobre a flora aquática da Lagoa da Fazenda. Lagoa que virou depósito de esgoto. Depósito de peixes-garrafas, peixes-sacolas, peixes-papéis... Elas pousam em meio a sujeira irresponsável da Lagoa.

E o cheiro ruim ou a imagem pertubadora de patinhos nadarem entre o lixo humano jogado ali. Mas as garças, os patos e as flores ainda estão lá.

O sol abrasador do meio-dia. Eu passo por aquela calçada movimentada de estudantes deixando a Universidade. Ninguém as nota. É como se as pobres garças milagrosas não existissem: como se tudo ali tivesse se tornado sacolas, garrafas... lixo nosso de cada dia.

Mas ainda há o milagre. O milagre das garças que, indiferentes da ignorância pública, ainda sobrevoam, passeiam e comem na Lagoa da Fazenda...

Porém, até quando?

Valdemar Neto
Enviado por Valdemar Neto em 08/08/2009
Reeditado em 08/08/2009
Código do texto: T1743739
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