Adolescência...

Que fase mais conturbada da vida. Adolescentes vivem a época e caem no modismo. É difícil resistir, pois seguir moda é como ingerir açucar: é gostoso e fácil, mas também faz mal e vicia.

Minha adolescência foi como uma corda bamba. Conhecendo o céu e o inferno, um jovem DeMolay andando pela Vila Aparecida, Bom Jesus, Cecap, Mutirão I, II, III, correndo atrás de capoeira, e do hip-hop que aflorava nestes lugares.

E é assim que se conhece uma realidade diferente da sua. É assim que você obtém a riqueza consistente em ser recebido na casa de amigos em que o chão é de vermelhão, em que a mãe bate a roupa no tanque de cimento, o banheiro no terreiro, mas onde o arroz com feijão cheira bem e meio-quilo de linguiça consegue alimentar nove pessoas. Sobremesa? Era o dominó na calçada.

A honestidade foi e ainda é ensinada como a maior lição, e daí aprendi que a necessidade não é desculpa para pilantragem.

Gangues de rua, só pavor: Pakatos Noturnos, Bronk´s, Kães Vadius, ABU+3, Rebel-des, Skayvers, muitos narizes quebrados, pichações ameaçadoras e perfurações abdominais. Armas de fogo quase não existiam, mas como eu não simpatizava gangue alguma, e ficava curioso para saber os resultados dos duelos, das invasões de área, das provocações na coluna zum! zum! zum! do Jornal O Guaíra. Em minha covardia inteligente, respeitava e temia todas.

No centro, ouvindo o punk rock de Garotos Podres, Restos de Nada, Inocentes, 365, que para mim eram os mais, a voz que todos queriam ter, já que Titãs, Ira!, Legião, Engenheiros, Biquini e Paralamas (bão demais) tocavam até na Boate do Grêmio, misturado com Michael Jackson, Alphaville, Midnight Oil, Duran Duran, Dire Straits, Depeche Mode...minha idade me salvou de uma overdose de bate-estaca.

Os anos 80, eram a charrete que perdera o condutor, e no início dos 90, McHammer mostrava sua nova dança para o Brasil, mas eu preferia escutar o RUN DMC mandando ver em Mary Mary.

E o modismo dos início dos 90 invadia. Todo mundo queria calçar uma bota western (eu ainda tenho a minha), rasgar uma calça e comprar um Ray-Ban falso pra ficar parecendo o Axl Rose, Bono Vox ou James Hatfield.

A bicicleta era o veículo. Rodando muito pelo centro, conhecendo a planície guairense, os bares, os fliperamas, as mesas de sinuca e também a Corredeira, a Diurna, o Poção.

Meu pai sempre atrás, dizendo não vá lá, não ande com aquele, não faça isso! E ele tinha razão de ter medo, a rua é como um grande espinhéu cheio de anzóis com iscas irresistíveis, onde a curiosidade é o fator que separa a vida da escravidão. E os córregos e lagoas levaram a vida de muitos que não sabiam nadar...

E nos bares: pretos, brancos, polícia, ladrão, viciados, ciganos, dondocas e putas..."tudo junto", no mesmo ecossistema. Não tinha para onde fugir, e era um verdadeiro barril de pólvora.

Cidade pequena, contudo, elétrica, alerta, cheia de venenos, estradas tortuosas e pontos obscuros.

Toda adolescência acaba...já vociferava Nasi, enquanto reclamava (enganado pelo Edgard, ele diz) da invasão nordestina na pobre São Paulo.

Ainda bem, já que está muito complicado ser um adolescente nos dias atuais. As brigas sempre terminam com trocas de tiros, odeiam o Primo Basílio e adoram Crepúsculo. A balada da onda é a rave, isso é, um monte de barulho sem significado com a única finalidade de fazer a droga bater mais forte no sistema nervoso, sem poesia, sem reclamação, sem denúncia...

O rap nacional, salvo raríssimas exceções, parou de escancarar os problemas sociais e passou somente a glorificar o crime, difundindo a idéia errônea de que se não achar emprego, tem mesmo é que roubar e traficar e que se reagir tem que derrubar (que saudade de Thaíde & Dj Hum e dos primeiros bolachões dos Racionais...).

O rock nacional, coitado, Fresno e NX0 fazem os emos chorararem e borrarem as maquiagens...ainda bem que O Rappa não deixa a peteca cair totalmente, e essa mistura é a tendência, uma música que não seja apenas rock, rap, reggae ou mpb, mas um som que faça as pessoas pensarem, desde o semi-analfabeto, até o filósofo comedor de bolacha passatempo.

Cuidado adolescentes...acordem e vivam.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 17/08/2009
Reeditado em 26/11/2009
Código do texto: T1758337
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