Eu médico, Eu monstro e a Princesa

Dupla personalidade... Eu sofria desse mal... Resolvi escrever essa crônica depois de assistir ao filme de Jim Carrey, “Eu, eu mesmo e Irene”. Não vou tratar especificamente do adoentado; mas, sim, da pessoa que convive com o indivíduo que se divide em duas ou mais faces, e tem que ter jogo de cintura para não passar a mão numa pistola e descarregar nos cornos de cada personalidade que seu cônjuge apresenta.

Agradeço a Deus o fato de Ele ter colocado no meu caminho a minha dedicada e compreensiva namorada. Com doçura, paciência e dedicação ela não desiste de lutar pela nossa felicidade juntos. Perdi a conta de quantas vezes eu pedi para ela passar a camisa preta e, depois, quando a minha outra personalidade se manifestava, eu exigia a camisa vermelha e ela, como uma mucama dedicada, não contestava... Comidas? Quantas vezes ela voltou para a cozinha a comida que ela tinha feito para mim, e eu obrigando-a a preparar outra refeição, pois minha outra personalidade se recusava a ingerir o alimento que ela havia preparado... E da vez que o controle remoto da TV pifou e eu tive várias crises manifestadas, obrigando-a a levantar e trocar de canal quantas vezes as minhas personalidades pedissem? Ela agia assim porque não me queria ver indisposto com “o outro”.

Hoje, felizmente, eu me considero liberto dessa moléstia graças a minha zelosa Princesinha. Vou narrar para vocês o dia em que ela exorcizou a minha outra “persona”: Fomos convidados para a celebração matrimonial de um casal amigo nosso. Depois da igreja, nos dirigimos a um salão de festas que tinha sido preparado para a recepção dos convidados. Assim que adentramos o recinto, a minha outra personalidade se apresentou e logo foi ciscar em torno de uma gostosura que estava dançando animadamente. Eu tentava desesperadamente retomar o controle da situação, pois sabia que a Princesa, ciumenta como só ela, não agüentaria aquele desfrute todo... Está certo que eu não tentei com tanta vontade assim, afinal a mulher era realmente muito gata, mas eu juro que aconselhei ao mentecapto que tomasse cuidado, porque a Princesa era uma fera. Contudo, apesar dos meus alertas, ele pouco se importou. Foi quando, de repente, eu senti que alguém havia me batido no topo da cabeça com uma porcaria qualquer. Quando eu e minha outra personalidade viramos nos deparamos com a Princesa rubra, cuspindo fogo! Eu nunca apanhei tanto em minha vida, amigos... Foram tantas tamancadas, socos e pontapés que eu perdi meus sentidos. Quando acordei, estava no hospital cheio de hematomas e acompanhado dos noivos. Perguntei o que tinha acontecido e eles, meio encabulados, me entregaram um bilhete que tinha sido escrito pela minha outra personalidade. Era uma mensagem de despedida. O infeliz dizia que tinha sido extremamente humilhado, ameaçado de morte pela Princesa e que estava partindo para sempre, pois não tinha mais cara de aparecer. Eu exclamei para os meus amigos que tinha sido melhor, ao que o noivo redargüir: “Qualquer um fugiria envergonhado, Pingüim”... Eu concordei: “Deve ter sido um vexame a surra que ele levou”... O meu amigo retrucou novamente: “Ninguém está comentando da surra, não... O burburinho é por conta da onde a Princesa enfiou o buquê da noiva...”.