O Encantador de Histórias
 
Quando chegamos eles já estavam esperando no portão: Gregório arrastava a sua mala e eu pensei: nem deu tempo para que passassem no Hotel. Mas por que ele não deixa a mala no carro? Fui cumprimentá-los, Gregório e seus acompanhantes, todos meus conhecidos. Amauri, José Geraldo e o próprio Gregório, embora ele não me conhecesse. Eu o vi pela primeira vez em Belo Horizonte, não estou me lembrando bem onde, mas acho que foi na Biblioteca Luis de Bessa. Ele era um dos convidados em um encontro do qual participei e eu me encantei. Estávamos praticamente na hora e entramos juntos, conversando, ele pedindo informações sobre o seu público. E arrastando a mala. A nossa passagem todos paravam para nos olhar. Gregório é uma figura encantadora – magro, cabelos e barba brancos, poderíamos até dizer que se parece com o Papel Noel. Um Papai Noel desnutrido, é claro, de terceiro mundo.
Quando entramos no auditório, já ocupado por algumas pessoas, ele abriu a mala e foi dispondo pelo palco, livros e folhetos. Pensei, triste a sina de escritor, tem que carregar peso para vender seu produto igualzinho a um trabalhador braçal. Mas que nada, ele trouxe só para mostrar, além de dar alguns de presente. E enquanto isso a sala enchia, quase que só com mulheres. Homens assistindo: muito poucos. Para falar a verdade, dois que obriguei a ir.Porque trabalham comigo e eu sei que aprenderiam muito. Um desses, um marmanjo fera no  HipHop perguntou-me hoje: Não dá para você trazê-lo mais vezes? Eu o ouviria todos os dias se pudesse. Eu queria ter tido um avô assim. Percebi logo, ele tinha sido encantado. Pois é isso que está acontecendo – contando histórias, Francisco Gregório Filho encantou a todos nós. Foram seis horas de oficina, oferecida pelo Programa Tim ArtEducAção, gerido pela Ong Humanizarte. Seis horas que passaram como o vôo de um pássaro e que só deixou no ar a magia.
Eu não fiz nada, a não ser a divulgação. Bom, os convites também, garantido que cada escola e cada creche de nosso município tivesse alguém ali.  Bastaria para mim, mas o que aconteceu foi muito mais do que isso. Outras instituições também enviaram representantes. Mas todos me dizem: obrigada. Foi a coisa melhor que aconteceu este ano. E foi mesmo.Quantas pessoas para uma oficina que durou seis horas e ninguém queria que acabasse? Mais de setenta. Completamente enfeitiçadas.
Ele é um contador de histórias. Ele é um cantador de histórias. Ele conta e canta a dor. Mais do que isso. Ele encanta as histórias e quem as ouve. E enquanto encanta, multiplica.
Não dá para transformar em crônica a oficina: é preciso vivenciá-la. Ouvir, falar. Cantar com ele. Nem há necessidade de colocar aqui dados da vida desse brasileiro de origem multi-racial, de convivência plural com nacionalidades, culturas e religiões. É só procurar no Google. Porque nada do que for escrito sobre ele corresponderá ao que foi vivenciado por nós. Fomos cativados para sempre por esse acreano carioca que passou a morar também em nossas lembranças.