JACKSON PARAGUAIO

A Polícia Federal marcava em cima. Entre revistas aqui e revistas ali, não escapava ninguém daquela barreira montada às pressas, no Paraguai. Muitos dos brasileiros que por lá estavam se revoltaram com a perda dos objetos que compraram (objetos acima da cota). Assim falavam:

- Com estas perdas, com os gastos em hotéis, com gorjetas, as 'laranjas' e até mesmo com a própria excursão, comprar no Brasil sairia bem mais em conta. Maldita foi a hora que vim fazer minhas compras aqui, se estivesse feito no Brasil sobraria até uns trocados para um chope!

Após perder sessenta por cento do que comprei tive uma brilhante idéia vinda dos livros de crônicas do fabuloso Carlos Drummond de Andrade. Rodando por horas encontrei uma funerária. O papo com o gordinho que só falava em espanhol ficou complicado, mas depois de horas e horas chegamos a um acordo. Acordo também que tive que tratar com alguns motoristas e com cada um brasileiro que estava afim de não ter que passar pela barreira. Então fui passando a cada brasileiro o plano que tinha em mente, alguns concordaram na hora, outros já haviam perdido muitas coisas e não queriam perder mais nada. Cobrei uns trocados dos que aceitaram, pois tinha que pagar o gordinho e os motoristas. Na hora marcada, todos se encontravam no lugar combinado, uns compraram mais objetos e foram colocando porta mala adentro, outros, assim como eu, colocaram vários objetos dentro do caixão. Onde já se viu caixão sem defuntos? E assim o funeral parte, o carro da funerária à frente e os demais motoristas atrás. Saímos em direção à ponte da amizade. Todos de óculos escuros, caras tristes, cabisbaixos. Chegando perto da barreira, o coração dispara, o medo tomou conta de mim e pensei, atemorizado: 'Se eles param, dá zebra! Irei me jogar da ponte, porque não tenho mais grana para bancar nada, se perdermos tudo.'

Ao verem o cortejo vindo, um guarda apita, pedindo passagem para os demais veículos. Não sei se chorava ou se ria, mas tentei manter aquele semblante de tristeza. Ao passar todo o cortejo fomos rumo à parada de ônibus, e muitos que ali estavam não entendiam a cena visada por eles. Era uma correria, pegando o que estava dentro do caixão, alguns observavam na cara dura, outros discretamente, e assim foi, até que uma garotinha, de aproximadamente doze anos, chega e me pergunta se eu estava roubando um defunto. Olhei com pena para aquela pequena menina e lhe disse:

- Sim, estou sim! Consegui o caixão de Michael Jackson e estou roubando seus pertences que vale milhões.

Afinal, em qualquer parte do planeta, existe um Michael Jackson Paraguaio da Silva.

Romano Júnior
Enviado por Romano Júnior em 22/08/2009
Reeditado em 05/08/2012
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