INDEPENDENCIA OU MORTE: Desafios e paradoxos presentes na interpretação do significado da palavra Independência

INDEPENDENCIA OU MORTE: Desafios e paradoxos presentes na interpretação do significado da palavra Independência

Telma Bonifacio dos Santos Reinaldo

Este trabalho destina-se a contemplar ao período histórico em 1808 a 1889 objetivando tomar como eixo estruturante a história vista de baixo (DOSSE, 2000) que nos permite fazer novas abordagens ao conhecimento histórico, construindo uma nova história do Brasil, tomando como marco fundador desse período a categoria “Independência”, para compreender o processo de Independência do Brasil dentro do contexto das relações internacionais que culminaram com a vida da família real para o Brasil (1808).

A escolha dessa metodologia vem de encontro à priorização tradicional que divide a história em etapas destacando a análise histórico-crítica que possibilitará de qualquer ponto: político, econômico ou social entender a história do Brasil e fazer uma análise deste contexto.A periodização da História do Brasil trazendo como foco método dialético exprime o avanço da ciência histórica em nossa época.

Assim entendemos que a independência do Brasil não alterou significativamente a situação que existiu durante todo período colonial, o país continuou fornecendo produtos agrícolas para a Europa e adquirindo todas as mercadorias manufaturadas por meio das importações. No entanto, nada se modificou na organização do trabalho, como nos primeiros tempos coloniais, toda produção continuou sendo realizada em extensos latifúndios, trabalhados por escravos negros.

Essas características constituíam a pesada herança colonial para o pais “recém libertado”.Entretanto o Brasil começava uma longa trajetória para se construir como um Estado Nacional e nação.Será que a independência foi exatamente como mostra Pedro Américo (1843-1905), autor da tela “Independência ou Morte”, de 1889. Será que os soldados fazendo uma longa viagem por estradas lamacentas ou poeirentas? Vestiam seus uniformes de gala? Como compreender tantas questões.

Sabe-se que nessa época, não havia repórter fotográfico andando atrás das pessoas importantes. Evidentemente o pintor que fez o quadro muito depois da proclamação, baseando-se em escritores da época, que divulgaram o que sabiam a respeito do episódio.

Assim, usando algumas informações e deixando outras de lado, o artista fez um quadro agradável a quem o encomendou: o imperador D. Pedro II. Outra representação, desta vez escrita, diz que, com a independência D. Pedro manteve a nação unida. Essa é a posição de muitos historiadores “agradáveis ao poder”, como Adolfo de Varnhagem (1816-1878).Pode-se afirmar que o Brasil deixava de ser colônia, tornando-se um Estado independente de Portugal. Mas será que já era uma nação na época?

Sabemos que existiam enormes diferenças regionais no Brasil daquele tempo, e o contato econômico e cultural entre as regiões era muito pequeno, tanto que, no início do império várias revoltas tentaram formar novos países.Porém um grande abismo entre ricos e pobres e entre ricos, homens, livres e escravos, não deixava possibilidade para que todos se imaginassem tendo que os mesmos interesses.

Como compreender que a independência tenha sido simultaneamente uma revolução liberal, uma transição pacifica, um desquite amigável, uma revolução de ampla repercussão popular e uma reação conservadora, senão por intermédio de circunstâncias densa e intricadas, que na multiplicidade de seus desdobramentos possibilitaram e possibilitam leituras múltiplas?

Quando pensamos na independência do Brasil de 1822, temos de retroceder no tempo para conhecer alguns fatos que muito influenciaram no seu processo histórico até sua concretização. Tratar essa questão justifica-se pela necessidade de traçar um novo olhar ao conhecimento da História do Brasil, para a partir dela discutir, refletir e participar da vida do país, posicionando-os como cidadão atuante.

Segundo Carlos Guilherme Mota, a Independência do Brasil cuja data oficial é 7 de setembro de 1822, constitui tema de profundas controvérsias. “a hipótese mais expressiva é a da independência está no futuro e não no passado ”. Na referida data, entende-se que aconteceu a independência política. O Príncipe Regente desfez os laços que nos unia a Metrópole. Ficamos assim independentes de Portugal, ganhamos agora a nossa “autonomia”, constituindo assim nosso próprio governo, hino, em fim nosso próprio território delimitado.

Porém, o grande questionamento que se faz é: O que mudou na vida dos brasileiros? Qual o papel transformador dessa decisão política? Haja vista, que não se alteraram os quadros econômicos e sociais. Os escravos continuaram sendo utilizados para mão-de-obra, permaneceu no poder o rei absolutista e a economia continuou voltada para o mercado externo, os latifundiários permaneceram dominando o cenário político e econômico.

Somando tudo isso, havia agora dependência econômica para com a Inglaterra. A Inglaterra apoio as negociações para que Portugal reconhecesse a Independência do Brasil, promovendo reuniões entre brasileiros, portugueses e ingleses. Havia interesse em conservar a amizade com Portugal e em assegurar a manutenção de privilégios e tratados comerciais com o Brasil. Dessa forma o Brasil libertou-se politicamente de Portugal e passou a depender economicamente da Inglaterra.

Assim, o Brasil independente permaneceu monarquia e a sociedade elitista brasileira assegurou seus benefícios, mas a população e sua maioria não tiveram nenhuma participação, permanecendo em situação de extrema carência indiferente à mudança do poder.

O conceito de independência, o estado de quem ou do que tem liberdade ou autonomia, não se deu por uma frase ou uma determinação de um monarca, pois segundo o padre Belchior Pinheiro de Oliveira testemunha ocular da cena que se deu sobre a margem do Rio Ipiranga, o rei nunca proferiu a famoso frase “Independência ou morte”, e D. Pedro I não montava um garboso corcel como retrata o quadro de Pedro Américo e sim uma mula, ainda segundo Belchior, o então príncipe regente “vinha de quebrar o corpo a margem do riacho Ipiranga, agoniado por uma disenteria, com dores que apanhara em Santos”, quando recebeu a correspondência vinda de Lisboa com exigências para ele inaceitáveis. Ao tornar ciência do conteúdo, atirou os papeis no chão e os pisoteou. Esse ato veio se desenvolvendo durante a nossa história, nas conquistas de liberdade e autonomia.

Nesse contexto de Independência, muitas lutas foram travadas para possibilitar que direitos básicos como o fim da mão-de-obra escrava, a conquista de um regime Republicano, o direito ao voto e a liberdade de expressão fossem adquiridos e perpetuados na história de um pais tão jovem, porém com uma grande vocação de manter a sua identidade cultural.

A independência do Brasil não aconteceu apenas quando D. Pedro declarou oficialmente a separação de Portugal. Independência de uma nação não ocorre simplesmente por meio de um ato formal, mas sim através de um longo processo de transformação que resulte na mudança de uma situação de dependência, social, política para uma nova situação de independência política, econômica, isto é, de liberdade, e de auto-sustentação.

Como bem define Carlos Guilherme Mota, a independência está no futuro, na conquistas de avanços sociais, na construção de uma sociedade mais ética e plural. Uma nação independente é aquela que tem um alto índice de escolaridade e um grande orgulho de seu país.Nesse cenário, a escola é fundamental devemos fazer com que nossos alunos vejam a história com um olhar critico, enxergando o que existe nas entre linhas, fazendo com que eles não esqueçam o seu passado, valorizando-o e intercalando-o ao presente, contribuindo para melhorá-lo e possibilitando um futuro melhor.

Concluímos que se formou em 1822 o Estado brasileiro, a nação no seu sentimento contemporâneo, isto é, uma unidade mínima de interesses, uma igualdade mínima entre os cidadãos perante a lei, o desejo de permanecer com membros de uma mesma unidade política, foi algo que os governantes foram criando com o tempo, simultaneamente à formação do território por meios de conflitos e tratados, chegando ao que é hoje.

A nação como sentimento de unidade está praticamente consolidada no Brasil, mas sob muitos aspectos notadamente os políticos, pode-se dizer que ainda hoje há muitos esforços, lutas e trabalhos para superar suas profundas desigualdades.