Aprendi

Aprendi que mulher tem vida difícil, dividida entre o trabalho e o lar. Aprendi lá fora. Mas não me disseram que poderia vencer estes obstáculos. Seria permitido sair na conquista de um espaço? Sofri silenciosa, identificando em meu coração anseios que iam muito além dos limites que me apontavam.

Aprendi que a gente cresce, casa e tem filhos. Aconteceu comigo também. Mas não como imposição. Cresci e percebi que principalmente a maternidade estava entre meus sonhos mais profundos. Algo que se tornou real e veio como uma bênção de Deus.

Aprendi que as profissões têm sexo e que não era lícito entrar naqueles tipicamente masculinos. Mas ainda assim abracei a matemática como início de minha vida profissional. Sei que muitas vezes me acharam estranha, como poderia uma mulher gostar de números? Mulheres são feitas para coisas menos áridas. Mas fui feliz assim. Até hoje a lógica me fascina e me aponta caminhos. Via em meu pai como isto fazia bem. E desde cedo minha família percebeu este encantamento e me ajudou a torná-lo algo possível, palpável.

Aprendi que minha primeira atribuição deveria ser a casa. Não foi assim comigo. Não necessariamente todo o tempo. Ás vezes me volto para meu ninho, como um pedaço do mundo só meu, só de minha família e de meus amigos. Gosto de cuidar dele. É lá que sou mais verdadeira, mais eu mesma. Mas também amo a vida lá fora. Amo o dia que vem me convidar a uma nova experiência. Ele não tem preconceitos.

Aprendi ser responsável, a pensar sempre antes de decidir, a ser dependente, a ser realista. Aceitei. A vida me tornou uma pessoa um tanto racional, mas não totalmente. Gosto de seguir impulsos, gosto de agir livremente, gosto de contar com as pessoas, sem crise, sem pressa, sem dívidas.

Aprendi que o mundo é um grande mestre. Ensinou-me as viver emoções. Tocou minha alma feminina. Deu-me uma família que me incentivou para a leitura, os estudos, a realização. Os conceitos vigentes não me escravizaram. Fui aprendendo lá fora, mas educada em casa. Via em meus pais o valor do papel feminino. E os admirava acima de tudo.

E estou eu aqui, mulher. Sinto o gosto da alma feminina em meus atos. Sinto aquele orgulho de ser mulher. Tenho vontade de fazer muito mais coisas do que permite o tempo. Este, sim, limita-me porque a vida é uma grande oferta.

Sonho e vou em frente consciente de minha determinação. Com lágrimas, mas também sorrisos; com derrotas, mas também vitórias. Minha alma feminina entoa a música de simples fato de ser mulher.