AUTO- SUICIDA

Talvez meu caro leitor tenha parado para ler este texto, no afã de entender o título. Suicídio é o ato de suicidar-se. É a ação em que a própria pessoa tira sua vida. Portanto não combina com “auto”, que por sua vez significa imputação a si mesmo, ou seja, autoria própria. Assim, de primeira mão, o referido título está impregnado de pleonasmo na visão do leitor, figura de linguagem que se refere à redundância de termos.

No entanto, foi propositalmente que usei este título, porque o suicídio que quero me referir aqui, não é aquele em que se pega um revolve, põe na cabeça e se faz BUUUMM! Na minha santa ignorância, acho que suicidas são pessoas que têm atitudes iguais a esta ou semelhantes no intuito de subtrair suas vidas. Pessoas que tem esta atitude não estão na sua consciência, são ações próprias de quem têm distúrbios emocionais, os loucos, melhor explicando.

Partindo desta premissa, a gente põe em dúvidas certos acontecimentos. A morte do Presidente Getúlio Vargas, se deu através de suicídio? Ele era louco? Roberto Pompeu de Toleto escreveu um texto intitulado “O poder do pijama” na Revista Veja de 26.08.2009. Este referido pijama que é de seda e de lista foi à veste que Getúlio usava na hora do suicídio, segundo o autor que ainda diz: “Getúlio é questão eternamente em aberto”.

Todos nós conhecemos muitas pessoas de nosso convívio que subtraíram suas vidas. Por “N” razões ou nenhuma razões para nosso entendimento. Estes são os suicidas ou auto – suicidas? Matar-se nem sempre significa alma separada do corpo. Muitas pessoas estão presentes apesar de ausentes. Mortas apesar de vivas.

As pessoas se matam quando perdem o gosto pela vida, quando se trancam em seu egoísmo, quando não repartem com os outros suas sabedorias, seus conhecimentos, suas potencialidades. Quando nos privam de sua fala, de seu canto, de seus escritos. Quando não exibem suas artes, seus dons muitas vezes representados pela pintura, pela culinária, ou qualquer outro tipo de aptidão. Estes são os auto-suicidas.

São pessoas que estão tirando sua vida duas vezes. A vida diante da vida, que significa o conviver e o interagir e a vida diante do seu próprio eu, que fica esmaecida e sem graça pelo seu isolamento voluntário. Estes são os auto-suicidas.

Morrer não é somente desaparecer fisicamente. Tem pessoas que estão aparentemente vivas. Andam, falam, comem, reclamam e nem sequer tomam conhecimento de que a cada hora, a cada instante, estão cometendo seu próprio suicídio.

Se não existe cadeia para os ladrões, assassinos, estelionatários, nem hospital para os enfermos, nem escolas para todos, nem lazer sem custos, nem auto-estima para os artistas, nem incentivo para a vida, o que fazer com os AUTO – SUICIDAS?

Eis a questão!

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 24/08/2009
Reeditado em 01/05/2020
Código do texto: T1771515
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