Profissão: ladrão

Acordou às 6:30 hs, afinal, tinha trabalho a fazer.

Escovou os dentes, beijou o filho e a esposa, tomou seu café, acendeu o cigarro e saiu.

Fez contatos telefônicos, acertando detalhes sobre abastecimento, municiamento, segurança, etc...

A moto cortava ligeira as ruas que separam a periferia do centro, e ele via as pessoas cochilando nos ônibus, rumo à rotina cotidiana de transporte público para o trabalho, os motoboys eram ultrapassados e apenas admiravam sua DL650, que era também instrumento de trabalho.

Costurava entre os carros, e a velha pistola .45 pesava uma tonelada na cintura.

O plano de trabalho já estava devidamente calculado, traçado na mente.

O banco abriria às 10:00 hs, o vigia já tinha aceitado dez por cento e fechado o acerto com o grupo. Um companheiro ficaria do lado de fora, observando, com uma submetralhadora Usi sob o grande paletó de lã usado para aplacar o frio paulistano.

Três entrariam no banco, dois "homens de negócio" vestidos de terno Hugo Boss e Armani, gel no cabelo, sapatos lustrosos, pistolas .45 e com uma capacidade incrível para persuadir os renitentes.

Na porta giratória, um comando do vigia destravaria o mecanismo detector de metais, simples, fácil e rápido.

Tudo normal, com um sentado na mesa do gerente, outro na fila do caixa; a única mulher do grupo usaria as curvas bem brasileiras e o vestido colado para distrair os outros vigias. Relógios previamente acertados, um conferiu o Breitling, outro o Rolex, sacaram as armas e anunciaram o assalto.

O dinheiro era todo colocado em um saco de pano cinza, os funcionários do banco deitados no chão, os clientes de pé, para não levantar suspeita e lá fora, todos andavam normalmente.

A simulação de defeito na porta giratória barrava a entrada dos outros clientes.

Na saída, tudo correndo normalmente, o dinheiro viajaria de moto até o ABC, o carro que era roubado tomaria outro rumo, levando o resto do grupo para depois ser abandonado e trocado por outro com documentação ok.

Estranho, muito estranho, mas quando a moto dobrou a esquina, o assaltante percebeu um caminhão dos Correios manobrando no meio da rua, subiu na calçada para desviar e começou e levar tiros que vinham do caminhão, crivando o colete que sempre usava. Uma bala atravessou o capacete, atingindo o crânio e apagando sua visão, caiu com o saco de dinheiro que se avolumava dentro da jaqueta que dera lugar ao fino paletó.

Trezentos mil em notas de cem, um corpo caído, muito sangue no chão e policiais civis vestidos de carteiros.

Não é tão fácil ser ladrão no Brasil, a não ser que você roube de dentro de seu gabinete em Brasília. Rende muito mais, além de ser muito mais fácil e seguro.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 25/08/2009
Reeditado em 27/08/2009
Código do texto: T1773180
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