NO TEMPO "DO FIO DO BIGODE"

NO TEMPO "DO FIO DO BIGODE"
Jorge Linhaça
"Há décadas, surgiu a expressão no FIO DO BIGODE que precedeu o lacre, a assinatura e a rubrica. Consistia em dar em garantia da palavra empenhada um fio da própria barba, retirado em geral do bigode. De origem controversa, bigode pode ter vindo da antiga expressão germânica pronunciada nos juramentos: “bi Gott”, ou “por Deus”."

"Eram os tempos dos fios de bigode. Ou melhor, um único fio do bigode. A palavra valia tanto quanto um fio do bigode. Pois homem que era homem, usava bigode. E para usá-lo tinha que honrar essa condição de homem. Tinha que ser muito macho, cumpridor de seus compromissos, custasse o que custasse. Tinha que ter na cara, além da barba, vergonha!"

Hoje os tempos são outros e o que vemos é exatamente o contrário: bigodes e barbas passam a ser sinônimos, ao menos na esfera do Governo Federal, de falta de palavra, de ética e de compromisso com o povo brasileiro.

Talvez não por coincidência, embora não com exclusividade,

os personagens da vez, na baderna que se tornou o senado federal nos últimos dias, ostentam seus opulentos mustaches.

O pivô da bandalheira, cultiva o seu ninho de marimbondos

com o extremo zelo que lhe falta para cuidar do dinheiro do contribuinte.

Já o senhor "prisidente" desde os tempos de líder sindical carrega como sua marca registrada a polpuda barba, hoje muito mais bem cuidada pelo barbeiro oficial, do que quando comandava piquetes na porta das fábricas do ABC paulista.

Já a decepção maior, não porque tenha feito pior do que os dois anteriormente citados, mas sim por que parecia manter ainda uma certa lucidez, ficou por conta do Bigodadante.

O ilustre senhor após anunciar que renunciaria à liderança do partido, após uma conversinha de pé de ouvido com seu barbudo amigo, voltou atrás em sua decisão, alegando que não "podia" deixar de atender o pedido de um companheiro de 30 anos de luta.

Claro que não importa que essa luta estivesse atrelada a uma ilusória pregação de uma ética que dissipou-se tão logo chegaram aos altos cargos públicos postulados.

Claro que não importa a vergonha de outros tantos companheiros de luta que não fazem parte da "elite" do partido. Afinal, agora eles são apenas peões de um jogo de xadrez, o que não deixa de ser uma boa metáfora para um partido que nasceu com os peões do "chão das fábricas".

E, enquanto o povo fica careca de saber da podridão que permeia os corredores da política nacional, o Trio Bigode de Ouro, para usar uma metáfora que mesmo o Lula consiga entender, segue abraçado para a barbearia do planalto e faz o pedido de um tratamento completo de beleza. O mesmo tratamento que tem imposto ao povo Brasileiro:

BARBA, CABELO E BIGODE.

Pena que de tantos fios, nenhum valha sequer um pingo num "i"quanto mais a palavra empenhada nas campanhas eleitorais.

Saudade dos tempos "do fio do bigode".


Arandu, 25 de agosto de 2009