A feira

Os dias eram contados para a dona Alvara. Sexta-feira era sagrado. Não importava se tinha parentes em casa, sexta era dia de feira. Morava ali perto, num edifício qualquer, mas que tinha vista para a praça, onde era montada a feira, bem na esquina com a Padre de Anchieta e Padre Agostinho.

Pouco a pouco as barraquinhas iam se arrumando, os toldos se erguendo, o cheiro do pastel dominando a sua casa. Dona Alvara ficava atenta ao relógio. Duas horas as verduras, às cinco as comidas. Vestia a sua roupa, especial de feira, pegava a sua bolsinha de contas e ia apreciar as delícias que agora embelezavam a praça. Tinha acarajé, sushi, sashimi, pastel, bolinho, sanduíche, frutos do mar, além de alface,berinjela, tomate, salsinha, frutas e legumes. Os donos da barraca já a conheciam como ninguém.

- O de sempre dona Alvara?

- Coloca mais um por favor, esse é para o netinho que está vindo.

Levava comida para todo mundo da casa, e já sabiam que sexta o jantar era mais do que especial no lar da senhora. Volte e meia alguns vizinhos do apartamento a pegavam voltando e comentavam:

- Hoje vai estar bom o jantar, dona Alvara! - com aquela entonação de esperança para um convite.

Coração aberto como sempre, e lá estava a casa cheia de amigos, filhos e netos. Tudo unido por uma feira.

Ruim é no final de tudo. Que assim como na casa de dona Alvara a louça fica suja, e as ruas da praça piores. Todo mundo vai embora, mas a sujeira fica. Frutas, verduras, restos de comida. Depois de tudo limpo, uma coisa é certa, semana que vem tem mais feira e mais alegria.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 28/08/2009
Reeditado em 28/08/2009
Código do texto: T1779593
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