Mate-se

Eu odeio pessoas legais.

Odeio aqueles caras comunicativos que fazem as pessoas sorrirem

Odeio aquele sorriso de palhaço que toda mulher fala: “Que lindo”

Odeio aquela meiguice ridícula. Aquele jeito de tratar as pessoas como se fossem retardadas.

Odeio ver eles nos carros de mamãe e papai saindo com seus cabelos saltitando como se a alegria fosse mero fruto do acaso.

Não gosto dos elogios idiotas de pessoas “felizes” complexadas pela sociedade moderna. Pessoas que se escondem pelo falso imaginário que suas vidas são boas porque estão rodeadas de pessoas que não dão a mínima para nada. Não sabem valorizar algo nesse mundo.

Eu gosto da desordem.

Faz meus sentimentos se sentirem de outra maneira.

Eu espero por algo que me faz ser outro homem.

Em minha cabeça passa o beco sujo com um cara banhado a sangue na cara.

Quando vejo essa cena, vem-me o título do livro de Will Self: “Como vivem os mortos”.

E penso que todos devem viver como os mortos vivem. Não em túmulo: morto esperando o juízo final. Mas penso em outra realidade submersa no caos e na anormalidade.

Os mortos vivem contrariamente as pessoas legais.

Eles não sorriem, eles riem. O choro é substituído pelo ranger dos dentes.

Os mortos vivem melhor que os vivos.

Essa é minha imaginação.

A qualquer momento feche os olhos. Pela fúria que existe em si pegue sua passividade e faça uma troca.

No transito, no ônibus, em frente à televisão, no murmúrio cego da vida. Faça novamente.

A vida é passageira porque a paz é plena. Não estamos esperando a paz, sempre estamos com ela.

A paz está em cada um pelo medo bobo da perversão social. Todos são pacíficos, menos os que vivem de verdade.

A fúria é o caminho da vida. Postar a frente da sociedade e enfrentar seus valores. A droga da cultura da paz que te transforma em medroso.

Os criminosos são os únicos sábios, porém, não possuem noção do que fazem. São trancafiados as margens da sociedade pacifica e estável, jogados no mundo dos mortos. E por lá eles vivem.

Se estiver errado, os filmes não fariam tanto sucesso.

Só há vida quando se ultrapassa a vida social, quando sua individualidade destrói o coletivo.

Quanto mais forte, maior a repressão. Quanto maior a repressão, maior será a morte. Quando maior a morte, maior a vida.

A prisão não mata, pois já se está morto lá dentro.

Não se trata de mais cadeias, mais psicólogos, mais dinheiro, mais programas sócio-educativos. Os EUA possuem tudo isso e formam o maior sistema carcerário do mundo.

Logo num país onde a cultura de massa é a mais chata do mundo.

Na Europa é diferente. Todas as lacunas para o desenvolvimento humano foram tampadas. Resta a morte real, comparando os índices de suicídios com o número de prisioneiros nos EUA pode se ter uma idéia que não há nada de diferente.

No Brasil as lacunas são imensas, um país perfeito para o crime sem punição. Um país para fortes com pessoas fracas.

Fracas por quererem os EUA e a Europa, esperamos a substituição do nosso mundo pelo mundo deles; e ficamos olhando assustados porque não somos eles. Mas não sabemos que eles odeiam seus países mais que nós o nosso.

Mulheres e homens prostitutos de gringos.

Olhamos com toda a paz do mundo dentro de cada um.

Mas os criminosos brasileiros amam seu país, estão pouco se ferrando para outra merda. A merda deles é essa e fazem o melhor possível dentro de sua merda.

Você pensa que eles não vivem, mas 7 dias vivos deles equivalem 30 anos de sua vida.

Eles morrem aos 30 anos e vivem 100 anos. São presos aos 20 anos e vivem 50 anos.

A criminalidade é o desempenho do forte. A criminalidade é o afronte ao social banal, sufocante e chato.

Não se trata da criminalidade, mas se trata do único meio.

Viver a vida é estar num beco sujo banhado a sangue.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 30/08/2009
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