E o tempo?

Ontem, eu estava vendo um clip da cantora inglesa , Tina Charles , a rainha da música “Disco”. A canção era , “ I Love To Love’. Uma melodia dançante , letra ingênua, mas, ousada para a época;falava de uma garota que adorava fazer amor e o namorado só queria dançar ,amava dançar. No vídeo , aquela menina de voz afinada e olhar meigo, dançava como se fosse uma brasileirinha: impressionante os seus passos, lembrava muito a nossa origem africana.Uma menina nordestina.No final da música, havia um gritinho . Aquele gritinho que até parece que fomos nós , brasileiros, que inventamos.Um gritinho sapeca, com uma malícia doce.Ela tinha algo a ver com o Brasil. E ela gostava do Brasil. Fez shows a vontade aqui; apresentou-se nos programas de televisão, provou da nossa comida, sentiu na sua pele sensível a força do nosso sol, e trouxe um namorado a tira colo. Bom, esse foi o lado negativo dessa história que traz de volta os meus dias mais radiantes. E como nada é perfeito, engolimos mais essa afronta do destino. E aconteceu que aqueles momentos tão vibrantes voltaram a minha cabeça,e eu me senti um menino.Aquele menino, apaixonado por qualquer garota que possuísse o perfil da minha musa. Ela era a referência para se viver um grande amor ; povoava os sonhos de todo adolescente daquela geração.Em todos os lugares onde íamos havia algo que nos levava ao mundo daquela criatura, cujo o encanto, era uma unanimidade. ( Éramos espertos e sensíveis).E o mundo real , não era tão bom como imaginávamos que fosse. Mas isso para mim- naquela época- não significava muito. A minha ilusão juvenil não permitia que eu enxergasse as maldades que a vida adulta, muitas vezes, nos apresenta.Não importava que era preciso cruzar oceano, rever a história, mudar a língua pátria, para puder encontrar a ninfa que deslizava nas pistas de dança. Uma bailarina moderna, de uma leveza ,que ia de encontro à silhueta clássica, com seu corpinho, graciosamente,volumoso.Ela parecia estar tão próxima como a garota que sentava ao nosso lado na banca da escola. Paris é uma festa- disse Hemingway. Não apenas Paris.Naquele momento, o mundo era uma festa.Uma festa democrática- mesmo na nossa condição- Dançávamos, cantávamos- quem sabe- éramos felizes. Embora, dizem que a felicidade é algo consciente. Logo, só se é feliz, quando se sabe que se é feliz.Eu não sabia.E o tempo? Não se sabe muito sobre o tempo. A física quântica diz coisas complicadas , aparentemente absurdas, beirando a loucura: o tempo é descontínuo. Pelo que eu entendi , esses momentos , ainda existem, em um outro lugar, em uma outra dimensão. Se conseguirmos atingir a velocidade da luz, andaremos para o futuro ou para o passado- disse um certo cientista, por coincidência da terra da minha diva. Voltar ao passado ,seria mais interessante. Evidentemente, com a mesma fantasia ( nessas alturas, não seria fantasia convencional, porque tudo é fantasia real), e assim, poderíamos novamente encontrar aquela menina ,com aquela mesma performance,sem ter sofrido as injúrias do tempo, dançando, cantando. É, aquela voz quase infantil – e agora sem preocupação com nenhum pecado- canta: I Love To Love

But My Baby Just Loves Dance, yes, he does...

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 30/08/2009
Reeditado em 17/09/2012
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