Bel, a doce vida de uma cadela
Uma bolinha preta que se movimentava: um mimo!
Sua chegada não foi muito bem-vinda. Em casa de alérgico, seria saudável a preseça de um peludinho?
Mas manda a boa educação, em se tratando de presente, não tem como devolver, é agradecer e cuidar...
Era um bebezinho brincalhão, zelo não lhe faltava... Fez todas peraltices de sua idade: mascou roupa, sapato, sentia-se dona do espaço...
Cresceu, alargou o universo. Tornou-se a pessoa mais doce do clã. Acolhia todos que naquele lar adentravam. E sabia muito bem para quem era a visita. Conduzia cada um com ternura e alegria... Era a cortesia em pessoa. Fez-se gente, só não conseguiu ser vista como tal por todos, que já não a percebiam com o desvelo necessário, crescera, entrava no cio, era aquela festa indesejada...
Crias, teve algumas, só duas vingaram. E como era difícil fazê-la entender que o filhote nascera morto...
Falava, passava mensagem, bancava guarda na sala de oficina pedagógica, ouvia o CD de oração, como um devoto... Sempre de bem com a Vida...
"A gente se acostuma com tudo e não devia". Nem percebi o quanto me fez falta e eu a ela, quando tive que me ausentar por alguns dias daquela casa, a cada semana...
Agora, no retumbar dos fogos de artifício, com medo, devia estar na porta, arranhando seu pedido de ajuda...
Mas não mais é presença, só saudade...
Bel, agora, é apenas uma história que a avó e o neto guardarão existência afora, com muita gratidão...
As lágrimas do dia do sacrifício, o texto escrito para o consolo, o não conseguir dormir, tudo foi um pequeno gesto de carinho para quem só foi carinho e nobreza...
Com ela, aprimoramos saberes e aprendizado, numa dimensão infinita...