OS HOMENS QUE ME PERDOEM...

De 1985 a 1999 praticamente nada escrevi. Algumas coisas soltas que pouco disseram dos meus sentimentos e da minha necessidade de colocar no papel o que sinto. Acho que foram anos negros que vivi e que pouco acrescentaram de bom a minha vida. De 1985 a 1989 afundei total e nas profundezas mergulhei, tentando destruir o que restava de bom em mim; no vício me afoguei, tentei matar e destruir corpo e espírito. Não sei porque, em 1989 alguma coisa mexeu meu sentimento. Hoje sei que não foi sentimento. Foi carnal. Mas me envolveu e me desviou, temporariamente, da rota de destruição. Foram dez anos que me mantiveram viva, porque esses dez anos me deram a certeza que eu só seria inteira se não procurasse ser a metade se alguém. Sofri, apanhei, e apanhei no sentido literal, fiquei marcada fisicamente , várias vezes fugi do mundo e quase perdi meu trabalho para esconder as cicatrizes que me marcavam o rosto. Não escrevi quase nada nesses dez anos que eu cataloguei como "os anos obscuros da minha vida" . Escrevi uma ou duas poesias, pois o tormento de ter alguém sem sensibilidade pra respeitar a minha sensibilidade, praticamente bloqueou meu escape poético.

Em 1999, não sei se graças aos três "noves", finalmente recuperei minha lucidez e resolvi tomar as rédeas da minha vida. Me libertei das amarras e do pensamento nefasto de que "só seria feliz com um homem ao meu lado". Cheguei a conclusão de que era capaz de ser feliz sozinha, que meu destino era ser mulher sozinha, com todos os riscos e responsabilidades que isso implica. Que eu podia ser dona do meu viver, sem ter que suportar as agruras de ter ao meu lado um brutamontes insensível e sem respeito aos meus sentimentos e ao meu jeito de ser. É claro que ter uma profissão contribuiu e muito para que eu pudesse me libertar. Mas, eu sei de mulheres que, sem ter a segurança profissional que eu tenho, libertaram as amarras e correram o risco para serem donas de si e tomaram o leme do seu destino. Tropeçaram, quase afundaram, mas estão aí, hoje, vivas e, mesmo com dificuldades, felizes, porque donas do seu nariz e sem algozes para deixar marcas.

Chega de marcas, chega de amarras! A mulher é o ser mais forte da natureza. Porque, além de aguentar os revezes de um relacionamento, muitas vezes bestial, consegue levar avante seu lado profissional e, tendo ou não este, consegue gerar, sofrer as dores emocionais de uma gestação, as dores físicas e cruéis do parto e ter um filho.

Deus devia estar inspirado ao máximo quando criou a mulher! Ou arrependido ao máximo por ter criado só o homem. A mulher até pode viver sem o homem, mas o homem não sobrevive sem a mulher... e se sobrevive passa um trabalho danado! A mulher é o todo, o homem um complemento. O homem contribui com o sêmem. A mulher dá o útero, o sangue, o leite. Sem a mulher a vida não teria continuidade. O sêmem fecunda o óvulo, mas a vida morreria aí, se aí não entrassem a vontade e o amor da mulher. Porque o amor da mãe transcende o ato da fecundação. O homem faz, a mulher recebe. A mulher é a terra que recebe a semente e dela, unicamente dela, depende a continuidade da vida. Homem algum jamais terá a capacidade e o dom de dar continuidade a vida se ali não residir a vontade e o amor da mulher. Amor que deve transcender o ato, porque o ato é transitório, é momentâneo. O que vem depois é sacrifício e disso só a mulher é capaz. Se a humanidade dependesse do sacrifício do homem para parir, hoje não teríamos muito mais habitantes do que tínhamos nos tempos em que a mulherada descobriu e adotou a pílula anticoncepcional, pois daí em diante as mulheres só continuaram a ter filhos por amor a esse sentimento inato que faz a mulher amar o óvulo que acabou de ser fecundado.

Não sei o que é isto porque não fui marcada para ser mãe nesta vida, mas admiro e sei, por acompanhar minha irmã, que é algo forte, vital. É algo que faz a mulher regeitar, por maiores que sejam as adversidades, o aborto. A mulher suporta todas as dores morais, físicas e financeiras, e não se deixa abater. Ela assume todo e qualquer risco. Solidão, desamor, abandono... o que é isso comparado ao ser que lhe pede o ar, o sangue, que ligado está ao seu centro vital?

Repito: Deus estava no auge da inspiração quando criou a mulher! A mulher não foi criada de uma costela de Adão. Deus criou o homem e decidiu criar o coração, o sentimento, o amor, a doação, surgindo então a mulher (quanto ao cérebro, Ele dividiu em partes iguais... ???).

Desabafo de uma feminista? Não. Constatação de alguém que viveu, viu, aprendeu e catalogou valores... Graças a Deus a maioria dos homens não é como o que descrevi no início do texto... Infelizmente, e muito seguidamente, a gente esbarra com alguns deles nas estradas da vida.

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NA: Este texto é uma homenagem a todas as mulheres e homens de bons sentimentos, aqueles que sabem sorrir e chorar, sem terem vergonha de demonstrar suas fraquezas.

Giustina
Enviado por Giustina em 03/09/2009
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T1790772
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