As lágrimas do sol

Era inverno e o sol preguiçoso andava escondido para melhor se agasalhar.. .

Foi num desses dias que, sem querer, dormi demais... E no sono pesado, enveredei-me por um passeio...

Pela fresta da janela, uma réstia de luz me seduziu e lá fui eu. Na cauda macia e quentinha do sol me transportei... Percorri o céu, atravessei o azul sem fim e fui até o mundo das nuvens... Ali, fiz uma parada. Embriaguei-me daquele branco esfarrapado, brinquei por entre elas, e algumas, muito pequeninas, eu desfiava como um algodão. Uma nuvenzinha não gostou do gesto, olhou-me triste e pôs-se a chorar... Grossas e frias lágrimas lhe caíram dos olhos, escondendo-me do sol, mas cuidadoso como ele só, abraçou-me rapidamente, enlaçou-me num paraqueda e devagarinho, desci, encantou-me a beleza do mundo, sua imensidão, agora banhada com os soluços da pobre nuvenzinha destruída. Pisei na terra encharcada, senti, então, uma imensa saudade do sol e meu coração se compadeceu daquela nuvenzinha que, tão nobremente, amaciara o chão, fertilizara-o com sua dor... Fiz-lhe uma prece de gratidão...

Ui, que susto!!!

Acordei, abri a janela, cadê o sol? Já se fora de vez, a chorar baixinho e suave nas gotas que caíam lá fora...

Luz Airam
Enviado por Luz Airam em 03/09/2009
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