Partilhas simbólicas
Ao se fazer uma busca no GOOGLE, a palavra partilha é encontrada, principalmente, sob o aspecto jurídico. No caso, o formal de partilha feito por ocasião do inventário.
Mas, não pretendo falar disso agora. Quero dizer de coisas que se dividem, não a nível monetário ou de bens, mas de Poesia, como partilha.
Pois, a poesia é um bem de baixo valor agregado. Simbólico. Não pode ser considerada, na linguagem dos economistas, uma commoditie confiável.
A poesia é economicamente estéril, não gera lucros. Por isso, não movimenta mercados futuros, nem salda dívidas passadas...
É apenas uma coleção de imagens & palavras que se desfazem no ar...(perdoe-me Baudrillard pelo empréstimo do título de seu livro)
No entanto, repousa profunda dentro de nós. Basta entrar em contato com um bom poema. Fruir sua seiva de sons & imagens. Neste momento, temos a sensação de provar um néctar de sutilezas.
Como um segredo cálido, a poesia se desnuda aos olhos de cada leitor.
Uma sucessão de véus e sons que vão se mostrando, a cada nova leitura. Sensual, envolvente.
Fiquem, então, com o poema:
Cegueira
Poesia
deixou rastros.
Não percebi.
Mostrou-se nua.
Meus olhos
eram só sintonia
para o mundo
concreto e factível.
Imerso
nas correntes oceânicas
dos compromissos
a desprezei.
Ela tornou a voltar.
Arrependido
aprisionei-a em estrofes.
Ela ficou comigo.