Partilhas simbólicas

Ao se fazer uma busca no GOOGLE, a palavra partilha é encontrada, principalmente, sob o aspecto jurídico. No caso, o formal de partilha feito por ocasião do inventário.

Mas, não pretendo falar disso agora. Quero dizer de coisas que se dividem, não a nível monetário ou de bens, mas de Poesia, como partilha.

Pois, a poesia é um bem de baixo valor agregado. Simbólico. Não pode ser considerada, na linguagem dos economistas, uma commoditie confiável.

A poesia é economicamente estéril, não gera lucros. Por isso, não movimenta mercados futuros, nem salda dívidas passadas...

É apenas uma coleção de imagens & palavras que se desfazem no ar...(perdoe-me Baudrillard pelo empréstimo do título de seu livro)

No entanto, repousa profunda dentro de nós. Basta entrar em contato com um bom poema. Fruir sua seiva de sons & imagens. Neste momento, temos a sensação de provar um néctar de sutilezas.

Como um segredo cálido, a poesia se desnuda aos olhos de cada leitor.

Uma sucessão de véus e sons que vão se mostrando, a cada nova leitura. Sensual, envolvente.

Fiquem, então, com o poema:

Cegueira

Poesia

deixou rastros.

Não percebi.

Mostrou-se nua.

Meus olhos

eram só sintonia

para o mundo

concreto e factível.

Imerso

nas correntes oceânicas

dos compromissos

a desprezei.

Ela tornou a voltar.

Arrependido

aprisionei-a em estrofes.

Ela ficou comigo.

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 04/09/2009
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