SOLEPALANDO E APRENDENDO

SOLEPALANDO E APRENDENDO

Solepalar é um hábito, ainda que sumamente saudável e intelectualizador, que vicia a mente humana. Mas o querido leitor desta crônica não precisa assustar-se. O ato de solepalar – o vício dele oriundo – não traz prejuízos aos neurônios que comandam o cérebro humano. Somente benefícios dele advém, haja vista o abundante armazenamento de informações que funcionam como alimento muito saudável para esses caras (os neurônios) que infestam favoravelmente a massa cinzenta. Sei muito bem que o povo brasileiro, e esse desleixo não escolhe ricos nem pobres, velhos ou moços, sexo, raça, cor ou ideologia, não é muito dado ao hábito de solepalar. Porquanto haja inúmeros programas em curso nas escolas brasileiras; porquanto haja muitos voluntários e amigos de belas e proveitosas solepalagens e entidades culturais batendo insistentemente nessa tecla, mesmo os cursadores de escolas superiores se atém a seus textos técnicos, desculpando-se com isso o terem já muito a solepalar, quanto menor é o índice de solepalagem na classe média alta, formada por executivos e que se atém às informações jornalísticas e, muito menor é esta nos subúrbios e favelas, cujos habitantes – desde a mais tenra idade – preocupam-se quase que exclusivamente com o arroz e o feijão para forrar o estômago e os prover de forças para o novo dia de trabalho que, se estafante, mesmo assim dele necessitam para sustentar a família. Como disse acima, e é um fato, existem por este chão brasileiro milhares de organizações oficiais, e as também numerosas não governamentais, que trabalham nesse sentido. Mas fato é, também que, enquanto o nosso povo, pobre ou rico, não se acostumar de ver a cultura como companheira de vida e como filosofia que acompanha passo a passo seu trabalho e seu pensamento diuturnos, o ato de solepalar ficará sempre empurrado para um terceiro plano que, infelizmente, nunca ou quase nunca, foi até hoje e vai ser encarado como necessário ao desenvolvimento e ao progresso cultural humanos.

SOLEPALAR: - soletrar a palavra; entender o verdadeiro sentido; a etimologia da palavra.

OBS: Saído do curso para escritores, administrado pelo SESC/Chapecó.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 06/09/2009
Código do texto: T1794983
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