BÊBADOS

MAIS UMA DO ARCANJO

Dizem os estudos que há bêbados no mundo desde que o homem precisou de algum auxílio à sua força natural para enfrentar o desconhecido, o aparentemente mais forte e a tristeza. A alegria é só uma desculpa de quem já não vive sem álcool.

O slogan “beba com moderação não apareceu com o automóvel nem com a recente lei seca. Ele vem do início do Cristianismo. Jesus tentou botar um freio no porre coletivo e não conseguiu completamente.

Diz o Câmara Cascudo1 que o homem bebe desde uns cinco mil anos. Cerveja e vinho vêm de gregos e romanos, muito antes de Cristo. Beber não foi invenção dos deuses mas bebedores sempre têm seus santinhos protetores. Se bem que com o preço atual, ninguém mais lembra de “jogar uma pro santo”, como se fazia com devoção antes. No anedotário de qualquer lugar, piadas de bêbados disputam pau a pau com as de sogras e outros personagens controversos.

Eu, agora na posição de atirador, sou catedrático no assunto. Listei tipos clássicos de bêbados de acordo com as observações por aí.:

“Bêbado Chatíssimo”. Fala com as mãos, tem que ficar pegando na gente; baba ou fala cuspindo nos outros. Repete mil vezes o que falou a cada cem vezes a mesma coisa;

“Bêbado Carente”. Está sempre se diminuindo diante da platéia. Se acha o último dos mortais, se acha uma porcaria, fala em morrer, ao mesmo tempo em que faz homéricas declarações de afeto por quem quer que seja e no fim manda todo mundo para pqp;

“Bêbado Raivoso”. É o bravo que não mete medo. Costuma se fazer assim para não ajudar na divisão da conta e ir embora mais cedo.

“Bêbado Amigo”. Quem já não ouviu a clássica tirada? “ Eu sou seu amigo pra c..., Você é meu irmão, entendeu? Meu irmão! Gosto do´cê demais! Dá abraço ou aperto de mão a cada minuto ou a cada vez que consegue levantar a cabeça e olhar para alguém ou algo que estiver à sua frente. Não se assuste se vir algum abraçado a um poste, um carro ou outro objeto. Na falta de gente, é costume haver essa confusão;

“Bêbado Absolutista”: Nunca lhe tire a razão. Sabe tudo, já viu tudo, já esteve em todos os lugares e não deixa os outros falarem. Entrecorta o assunto com aquela. “Não é nada disso” ou “eu sei” ou “você não sabe p... nenhuma”.

E não adianta se declarar abstêmio. Há álcool em alimentos industrializados, perfumes, desodorantes, cremes dentais e remédios. Os que não se sentirem enquadrados em nenhuma das categorias anteriores são bebedores sociais (ou podem se considerar, por enquanto).

ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

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1 – “De todos os vícios humanos o da bebida é o que se honra com mais extensa e erudita bibliografia... As campanhas antialcoólicas, visando evidenciar a degradação e bestialidade do embriagado não conseguem retirar-lhe uma aura de popularidade universal. Em qualquer paragem do mundo a estória de bêbado é invariavelmente hilariante.” (C. Cascudo, História da Alimentação no Brasil, pg, 20,30)

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 09/09/2009
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