O DEFUNTO QUER FALAR

Já ouvi falar muito sobre Marta e Maria, as duas irmãs de Lázaro, aquele que Jesus ressuscitou dos mortos. Note que elas sempre aparecem juntas. Invariavelmente a Bíblia menciona uma após a outra nos episódios relacionados. Marta é vista sempre trabalhando e Maria surge adorando a Jesus na mesma cena. Uma trabalha e a outra adora. Uma com a mão na massa outra com as mãos postas. Quando Marta se apresenta de avental Maria aparece de véu. Enquanto Marta enche os potes Maria esvazia o perfume em Jesus. No que Marta se agita nas tarefas diárias Maria pausa diante de seu Deus. Uma (Marta) representa a vida prática, o serviço e a razão a outra (Maria) é a figura da contemplação, da adoração e da fé.

Uma é contrária da outra? Creio que não. Apesar de ter muitos que não concordem comigo. Eu acho mesmo que uma é complemento da outra, ou melhor, que uma e outra são uma coisa só vista sob dois aspectos. Adoração e serviço, fé e razão, Marta e Maria. Irmãs inseparáveis. É por isso que elas estão sempre juntas nas histórias da Bíblia. A labuta é irmã da adoração e devem aparecer associadas na mesma cena todo dia. Quem adora só adora se servir e quem serve só serve se for adorando. Só existe Maria quando existe Marta. Se a sua religiosidade não presta serviço ao próximo é Maria sem Marta. Se o seu serviço ao próximo não tem uma motivação nobre é Marta sem Maria. É família desequilibrada e os irmãos vão apodrecer na cova. Entretanto, na família que tem essas duas os irmãos ganham vida. Lázaro que o diga.