Uma aula de AMOR

Como tantos outros casais que se conhecem por acaso, esse encontro ocorreu de uma forma inesperada, numa sala de quimioterapia, iniciavam um tratamento que em muitas vezes, é apenas um alento, algo muito mais motivacional do que funcional, nos primeiros quinze dias de tratamento se viam constantemente, por serem jovens conversavam sobre tudo, a infância, a adolescência, ainda recente, os gostos pelas músicas, roupas, estilos, mas de maneira inconsciente nunca comentavam sobre o futuro, os seus desejos ou seus sonhos, sabiam que, mesmo acreditando, não poderiam programar nada além do hoje. As trocas de olhares tornavam–se mais profundos, os corações já saiam do seu compasso, e o que achavam ser uma tortura, tanto física quanto psicológica, agora era ansiosamente esperada por eles, era nas sessões de quimioterapia que tinham a oportunidade de novamente se verem, suas conversas agora já buscavam objetivos, começavam a sonhar, e descobriram que estavam apaixonados e não conseguiriam viver um sem o outro.

Vinham-se nos finais de semana, saiam e curtiam o máximo que podiam, cinema, shows, futebol. Os seus pais que até pouco tempo não sabiam o que fazer para tirá-los da dura rotina, se emocionavam vendo aquele casal, para quem não os conhecia, um casal normal. Contudo a cada sessão, o diagnóstico de ambos não os animavam, desesperados decidiram que iriam se casar, precisavam terminar juntos o que resolveram iniciar, serem um casal feliz. Seus pais ficaram receosos com a decisão, mas de maneira alguma podiam contrariar aqueles dois, e até percebiam que não era empolgação de dois jovens, porém uma união de sobrevida, de fortalecimento, de vontade de viverem o maior tempo possível.

E três meses após se conhecerem, juravam o amor eterno até que a morte os separasse, como não podiam abandonar o tratamento, fizeram a lua-de-mel no litoral, teriam o sábado e o domingo para se entregarem um ao outro, e foi exatamente o que aconteceu, seus corpos se entrelaçaram, se consumiram sem descanso, se amaram, transformaram aquela relação, digno de aplausos de Deus, aquilo que Deus tanto pregava, se concebia naquele momento, naquele ato, aquilo era o amor, mais do que isso, “uma aula de amor” e Ele quis dar para os dois o sopro da vida, sem eles saberem. Na volta para a capital, e para a rotina, a cada sessão, de mãos dadas, mostravam a todos que lutavam lado a lado contra a doença. E foi em um desses exames diários que descobriram que ela estava grávida, os médicos surpresos com o resultado, devido a infertilidade em decorrência do tratamento, não conseguiam encontrar outra resposta, a não ser o da mão divina, o que para muitos seria motivo de festa, contudo no caso deles, como prever as consequências do tratamento sobre o ser dentro dela.

Com o consentimento dos pais, pois havia risco, decidiram diminuir a dose com o avanço dos meses, e o que impressionava era a garra com que ela enfrentava o desafio. A gestação acompanhada por todos seguia tranquila, o que dava forças para os dois corresponderem as doses, que no caso dele tornavam-se cada vez mais fortes, sabendo do seu estado, pediu a Deus que no mínimo lhe desse a oportunidade de admirar o rostinho do seu filho, para assim seguir em paz o curso da vida, ela que precisava mais forças do que todos, queria apenas entregar ao mundo o resultado de um amor verdadeiro. Nove meses se passaram, nascia um belo garoto, que teve a honra de receber o nome do homem que lutou contra tudo e contra todos, Jesus, saudável e sem sequelas, a partir daquele instante era a prova viva do impossível, da fé e da esperança.

Seu pai teve o seu pedido concebido, vindo há falecer uma semana depois do nascimento do filho, a mãe apenas o amamentou por quinze dias, também vencida. De qualquer forma, aquela criança, órfã, mas com os avós e tios para o cuidarem, era a pura demonstração de uma “AULA DE AMOR”.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 10/09/2009
Código do texto: T1801912
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