Data esquecida

- Que dia é hoje?

- Não sei. Consulte um calendário.

- Não tenho. Preciso saber.

- Não me importo com as datas.

- Pois para mim são importantes.

- Então, devia saber que dia é hoje.

- Esqueci.

- Para não esquecer, use um calendário.

- Não costumo carregar comigo.

- Falta de interesse pelas datas.

- Engano seu. Já disse que são importantes.

- E por que não sabe, bolas?

- Que pergunta! Porque não sei, ora!

- E muito menos eu.

- Como é que eu faço?

- Deixe de fazer.

- Não posso.

- Por que não pode?

- Estou fazendo um ofício.

- Ofício sem data não é ofício.

- Ajude-me a lembrar.

- Não adianta. É perder tempo.

- Droga! Assim não dá.

- Procure com o jornaleiro da esquina.

- Ele não trabalha domingo à noite.

- Taí: hoje é domingo!

- Mas que dia do mês?

- Um dia qualquer.

- Isso não é data.

- Tem razão. Isso é pronome, não é data.

- Preciso saber logo.

- Ligue o rádio.

- Não tem pilhas.

- Olhe no jornal.

- Você não comprou.

- O de ontem, então.

- Fiz um embrulho.

- Paciência! Era o único. Deixe a data para depois.

- Tenho que mandar o ofício amanhã.

- E que dia é amanhã?

- O último dia do mês.

- Que mês?

- Novembro.

- E aí?

- Dezembro é de 31. Pois amanhã é dia 30.

- Então hoje é o dia do meu aniversário?!

(Goiânia-GO, 18/11/1977)