Quem sabe conviver com a rejeição?

Alguém aqui pode me ensinar a conviver com a rejeição?

Eu sou uma mulher feia. Já escrevi sobre isso de uma forma bastante bem

humorada. Mas, não é assim que tem que ser? Não precisamos olhar para os nossos

defeitos de uma maneira alegre, de forma a não deixar que nossos amigos, conhecidos,

familiares e outros mais n~ão se sintam ofendidos com a nossa dor, com os nossos complexos

e com a nossa depressão?

Quem gosta de ser feio, velho, gordo, sem sorte? Se alguém aqui me disser que está

satisfeito com os seus defeitos, vou rir muito. Até comeria o meu chapéu, caso eu

tivesse um. Felizmente, não tenho. Com tantos problemas em minha vida, o gosto do chapéu

n~ão seria nada interessante, para não lembrar que deveria me dar uma terrível

indigestão.

Mas, por que temos esse hábito pavoroso de dizer que somos felizes com os nossos

defeitos? Apenas para dar uma de forte, de amável para os que nos cercam? Alguém sabe?

Bem, cresci ouvindo as pessoas do meu meio dizendo que eu era muito feia. E, olhem

que surpresa! Todas as vezes que me olhava no espelho era exatamente isso que eu via!

A vida se resume nissso? Em me olhar no espelho e perceber que não me pareço com a

Juliana Paz? Não. Não é. Por sdorte, sou deficiente visual há 8 anos e, como não tenho a

visão central, não posso saber ao certo se agora eu me pareço com ela. Com certeza, não

devo nem chegar perto.

Tudo bem.

No entanto, sempre me chamaram de burra, mal educada, sem jeito, sem graça e outras

coisinhas que seguem essa mesma linha. Isso quando não me diziam que eu nunca ia

conseguir ser alguma coisa boa, que eu ia virar prostituta, que eu nunca ia ser nada

importante...

Caraca!!! Já ouvi cada coisa!

Não sei por que algumas pessoas gostam de falar esses e outros absurdos para

crianças e adolescentes!

E acredite em mim. Tem gente que adora fazer isso!

E, quando me tornei adulta e me casei, ouvi os mesmos absurdos dos lábios de meu

marido. Esses e outros mais. Coisas que só os lábios de um marido podem proferir para

machucar de propósito, para humilhar, para magoar. Lábios que eu vivia a beijar.

O tempo passou. O patinho não se transformou em cisne. O marido foi atrás de coisa

melhor. Não virei prostituta. Mas continuei a não ser nada. Pelo menos do ponto de vista

da sociedade que nos julga pela aparência, pelo belo corpo, pelo belo rosto, pela conta

bancária, pelo prestígio social e por aí em diante...

Hoje, escrevo livros que estão no meu blog, o blog da ceguinha. E não quer dizer

nada. Quase ninguém lê os meus livros! Não fui a lugar algum, não realizei nada

interessante, além de escrever coisas que ninguém tem o interesse de ler.

Seria por causa dessas coisas que passei a vida inteira a ouvir? Ou seria uma boa

desculpa de minha parte colocar a culpa nos outros por eu parecer frustrada aos olhos

de todos, em todos os setores de minha vida?

Em determinadas situações, parece-me muito chato esse sentimento de inadequação,

essa sensação de não pertencer a nenhum lugar.

Ah! Não devo esquecer-me que sou brasileira e não desisto nunca! Continuo por aqui,

sempre na luta!

E quem não está, não é?

na verdade, é pura bobagem ficar choramingando pelos cantos, remoendo um passado,

que, se não foi bom, ainda assim me permitiu estar aqui, escrevendo para vocês esse

desabafo. E isso não é fantástico?

Contra todas as probabilidades, me considero uma mulher inteligente e culta, não

realizada financeiramente, mas dona de uma intuição e de uma maturidade de causar inveja

aos que me cercam, especialmente naqueles que sabem reconhecer o que é verdadeiramente

bom.

Se algumas daquelas pessoas do meu passado, e que ainda me cercam, não tem a

capacidade de compreender o quanto sou grandiosa, só lamento por elas!

Durante muitos anos, elas conseguiram me deixar na lama da rejeição e da

desesperança.

Agora, não mais. Tenho ainda muitos resquícios das coisas que ouvi ao longo de minha

vida. Sinto-me inadequada, solitária em muitas ocasiões, fora de meu lugar. Porém,

descobri que é o fato de ser realmente diferente que me afasta um pouco dos demais.

O sentimento de rejeição me afastou das massas, mas me fez entrar em contato comigo

mesma, a procurar me conhecer, já que eu não sabia como lidar com os outros. E, embora

ainda esteja me conhecendo, aprendendo algo sobre mim mesma a cada dia, descobri que sou

um ser humano maravilhoso, fantástico, repleta de sensibilidade, amor, carinho e

ternura. Sou completa e apaixonante. E, mesmo que ninguém mais possa me compreender, me

amar, eu consigo fazer isso comigo mesma. Amo-me! Compreendo-me!

Você pode entender o que isso significa?

E retiro o que disse em minha primeira frase do texto!

Idéias absurdas da ceguinha

http://www.blog-br.com/outrrodaceguinha/