...CUSPINDO NA FACE AO ESPELHO...

"...arrancado a essa longa conversa interior que mantinha com uma sombra, era então atirado sem transição para o mais espesso silêncio da terra. Não tivera tempo para nada..."

ALBERT CAMUS

Acordar na madrugada e ir até o banheiro para lavar o rosto. O que o espelho mostra não agrada, tudo parece tão sujo, tão desgastado. A alma parece trancada dentro de algo que agora parece inexpressivo. As mãos parecem atadas ao recolher a água que tenta limpar a mente. A boca não parece interessada em se manifestar diante do remorso que se arrasta pela sobrevivência. A ausência de vida não sai do pensamento. Segurança é ilusão das mãos dos responsáveis e disparos são percebidos quase todas as noites, enquanto o sangue expressa a dor pelas esquinas sem hora marcada. A cabeça permanece baixa frente à realidade adquirida pela responsabilidade que cultiva. Os ombros estão pesados pelo corpo que carrega ou as pernas se arrastam por estarem amarradas? Talvez seja apenas o resultado do sucesso de suas ações, que os vigilantes olhos da sociedade insistem em te devolver como fracasso, por não se adequar ao brilho ensaiado dos sorrisos que não sobrevivem após o flash das fotografias. A água continua a se chocar contra a barba mal feita, logo o Sol vai estar lá fora iluminando todos os caminhos, e eu sei que hoje a escolha vai ser a certa. Se as pernas estão machucadas ao se arriscar pelo desconhecido, a beleza da coragem em buscar a vida continua intacta, sem nenhum arranhão, e é isso que vai te guiar pelo mundo outra vez...