DA NATUREZA PARA NOSSA ALMA

O meu pé ficou preso na lama. O dia chuvoso. Os pássaros murchos nos galhos das árvores encharcadas. Minha caminhada foi interrompida por uma descarga elétrica impressionante. Meus cabelos em pé, arrepiados, eram prova de que eu recebia uma parte da descarga, sem prejuízos para minha saúde. Levantei-me do chão após o estrondo, da minha pele saia uma espécie de fumaça azulada, eu me sentia diferente, modificado na área de energia física, sentia-me como um jovem de vinte anos.

Com cinqüenta e oito anos de idade, buscador irrepreensível diante dos mistérios insondáveis do universo, minha ida a mata dava-se pelo fato de que algumas pessoas comentavam sobre acontecimentos espirituais no local.

O dia amanhecera chuvoso e não seria a chuva, que eu sempre amei, capaz de me segurar em casa. A mata era uma reserva ambiental e as pessoas que por ali circulavam, eram dignas de confiança. Minha pesquisa sobre os acontecimentos espirituais acontecia devido ao mérito dos informantes.

Encostei-me em um moirão de cerca cujos arames estavam enferrujados pela ação do tempo, respirei fundo, meu batimento cardíaco estava em dia, meu cabelo e pelos continuavam eriçados. Eu ouvia vozes distantes. Meus sentidos pareciam aguçados. Logo a minha frente, vi um pequeno pássaro, belíssimo, uma saíra sete cores, caída junto a uma pequena árvore de manacá da serra. Aproximei-me da avezinha e ela nem manifestou desejo de voar. Estava ofegante. A tempestade havia provocado sua queda. Estava ferida. Entendi ser interessante estender sobre ela minha destra e energizá-la. Sempre usei desses recursos e algumas vezes deram certo. Dessa vez no entanto, foi de imediato a cura da avezinha. Deu um pio, como agradecimento e voou para sua libertação.

Continuei minha caminhada para o seio sagrado da mata. Lá chegando, não me privei de sentir o frescor, de participar daquele local belíssimo, onde orquestras de pássaros cantavam, borboletas bailavam e alguns animais rasteiros passeavam. Cobras eram comuns. Camundongos. Aranhas. Grilos. Calangos. Muitos outros, apareciam como se fossem pequenos duendes, entre folhas, sob raízes que se colocavam acima do solo.

Nós homens somos imbecis. Destruímos os recursos naturais. Matamos animais para servir a nossa gula doentia. Somos predadores impiedosos. Assassinos conscientes. Diante das tragédias planetárias, ainda ousamos questionar o palco da violência na sociedade. Seres incoerentes e obtusos, nós seres humanos, mais que afundar o pé na lama como aconteceu comigo, soterramos nossa alma na ignorância peculiar que adotamos como postura.

O que a natureza havia feito comigo eu não poderia descrever de forma científica. Sei que minha consciência abriu-se para a vida. Passei a entender que não é possível viver sem estar em sintonia com a natureza divina das coisas. Que amar os pais, a esposa, os filhos e os amigos, não é suficiente para entender a dança mágica da existência. Meu instinto de homem me dizia que precisamos amar a tudo e a todos. Assumindo esse compromisso, estaremos diagnosticando os malefícios da nossa conduta irresponsável diante da vida e abrindo possibilidades para abrigar em nosso coração, em nossa alma, a mais bela participação nessa coletividade chamada Planeta Terra.

Não sou capaz de matar nem insetos. Ouço a voz da natureza em tudo o que minhas mãos tocam. Elas estão prontas para servir ao regime do amor às criaturas. Curar pelo toque. Pela energia que explodiu no meu interior quando caí diante daquele raio certeiro. Viver não significa apenas respirar. Percebi que viver é ir além do que se vive no dia a dia. É penetrar profundamente na ilimitada capacidade de amar a todas as criaturas. É estabelecer um pacto eterno com a magia do universo e seus efeitos cósmicos sobre todos nós. E ser paz, ser amor, ser vida, doando-se inteiramente nessa tentativa coesa, precisa, de mudar-se em primeiro lugar, antes das mudanças sociais, das pessoas, para servir de parâmetro ao que está sendo estabelecido pela chegada de um novo tempo.

Caberá a Natureza Divina das Coisas, esse mistério da criação, devolver aos homens, o que um dia eles obtiveram e perderam nessa caminhada terrena, cheia de egoísmo, vaidade, mentira e ignorância. A Sagrada Mãe Natureza não tem dogmas e nem cultua deuses. Ela é a razão de tudo. Ela está inserida no contexto físico e espiritual das existências.

No interior da mata, naquela magia colorida, sentida, vivida por todos os seus habitantes, eu não vi nada que me assombrasse, o espiritual que as pessoas comentavam nada mais era do que o elixir divino manifesto em cada partícula de água, em cada folha das árvores, em cada ser, como manifestação inquietante do pulsar que alimenta a vida em todo o universo.

A existência é um mistério que não pode ser rotulado pelas crenças dogmáticas e religiosas. Não pertence a nenhuma casta. Não serão os sacerdotes e nem pastores, nem líderes religiosos, cobertos pelas suas descrições particulares, nada inovadoras, promíscuas em relação a verdade absoluta da cosmologia e cosmogonia divina, que conhecerão as obras suspensas no ar pela criação eterna e renovadora.

O divino aqui não significa imposição de nenhum deus. O divino é absolutamente presente em tudo pela Divindade natural da criação que a Sagrada Mãe Natureza executa desde o primeiro sinal de vida no universo. Quando? Onde? Como? São interrogações que submetem nossa alma ao capricho misterioso da própria criação.

O que sei é que devo viver em sintonia com a magia das coisas. Respeitando a vida. Sem atropelar e sem ser atropelado pelo trem da morte. A vida é eterna e não há um céu me esperando. O que há é uma dimensão fecunda, um estaleiro de almas, onde a depuração é natural, sem sofrimentos, sem fogo queimando as entranhas, sem gemidos pela ação de figuras demoníacas, pois a Sagrada Mãe Natureza é puro amor.

As religiões cantam suas próprias convicções. Estão afastadas do centro reprodutor da vida, presente na natureza e que pode ser uma mata, uma floresta, um riacho, um rio, um oceano. Fechadas em si, arrastam-se pelos milênios nessa confusa busca do que não pode ser encontrado. Não é preciso muito esforço para entender a magia da vida. Um pouco de inteligência, somado ao espírito da liberdade que pulsa dentro de cada um de nós, leva-nos a reconhecer que somos eternos aprendizes. Teorizamos tanto quanto sonhamos.

Aprendi, que um raio pode atingir nosso corpo e acordar nossa alma para uma realidade belíssima, onde, como criaturas livres das castas, seitas, dogmas, princípios castradores, pertencemos ao universo e estamos inseridos na vida, desde os grãos de areia até os píncaros da espiritualidade invisível aos olhos da carne e manifesta no interior da nossa alma.

Sou feliz por estar assim e não quero guardar essa felicidade comigo. Ofereço à você essa oportunidade de assinar um protocolo de liberdade junto a Sagrada Mãe Natureza. Receba-a como Mãe em sua alma e aceite-a como a única possibilidade de entender a vida exatamente como ela é, ou seja, um mistério que de forma livre está presente no fogo, na água, na terra e no ar. O restante são especulações de quem assina uma condição de filósofo do achismo. O convite da Sagrada Mãe Natureza é simples: amar..amar...amar.

AKENATHON
Enviado por AKENATHON em 15/09/2009
Código do texto: T1812230