O PAPA MARMITAS

Maurício, era o seu nome, conhecido também como “Brutus”, face tamanha semelhança com o rival do marinheiro “Popye” (aquele namorado da Olívia Palito), o nosso personagem era o terror das funcionárias da imobiliária, graças à sua mania de surrupiar bons bocados das marmitas das colegas.

Sua fama extrapolou os limites do pequeno universo da arraia miúda, chegando até os ouvidos do pessoal da Diretoria. Mas lá ninguém comia de marmita, de maneira que suas proezas serviam apenas para a galhofa dos maiorais.

Na hora do almoço, os funcionários se dirigiam ao refeitório e cada qual buscava sua marmita, já quentinha no fogão. Mas, ao tirar a tampa ... surpresa! O bifão acebolado havia desaparecido de uma, o ovo cozido de outra e o macarrão com queijo de mais outra!

A moçada ficava na maior bronca, reclamava com a chefia, mas nada de se descobrir o ladrão das marmitas. Um desrespeito, um acinte!

Certo dia o Juscelino, dos “Serviços Gerais”, mulato forte e trabalhador, chegou perto do Walter, próximo ao meio dia, e falou:-

“- Cara, vou descer agora, tomar uma pinga ali no boteco da esquina e voltar correndo pra meter os beiços num franguinho ao molho pardo que a minha santa mãezinha

preparou hoje. Tá lá no fogão, esquentando ...”

Daí a pouco o Juscelino voltou, faces afogueadas, correu ao refeitório e já encontrou a turma comendo. Sua marmita esperava no “banho Maria”, suando de quente, sozinha no fogão.

Juscelino apanhou-a com carinho, sentiu o peso da bichinha nas mãos calosas (até babou), sentou-se junto aos colegas, benzeu-se e ... abriu a tampa! Soltou um grito lancinante, desses de cortar o coração, e a seguir proferiu sonoros palavrões cabeludos, empalidecendo as moças que comiam sossegadamente.

“- Filho duma égua, corno safado, eu ainda te pego ...”

“- O que foi, Juscelino? Diga meu filho, pelo amor de Deus!”, suspirou a Dona Chica, velha copeira da imobiliária.

“- Olha aí, minha tia. O sacana comeu meu frango e ainda encheu a marmita de areia ! ...”

“- Ah, já sei. O Maurício andou mexendo aí nessas marmitas. Chegou de mansinho e não me viu, foi mexendo, destampando todas ...”, entregou a velhota.

Juscelino não esperou mais. Ergueu-se, fulo de raiva e saiu à caça do Maurício. Havia uma construção ao lado, ele ficava lá, na hora do almoço, de papo com a peãozada.

Juscelino chegou e nem teve conversa:- meteu o braço na cara do ladrão de marmitas, enchendo-o de porrada. O pau comeu solto, rolaram no chão, engalfinhados.

No dia seguinte, pela manhã, a turma batendo o ponto, em fila, todos no maior alvoroço, alegres (dia de pagamento), eis que chega o Maurício com uns óculos escuros enormes e o queijo esfolado. Não quis conversa, não gozou ninguém (como era do seu feitio), bateu seu ponto e foi para o “Almoxarifado”.

Dessa data em diante os empregados puderam comer sua refeição na santa paz do Senhor, com tudo a que tinham direito:- bife, ovo cozido, macarrão, frango, batatinha, etc. e tal. O “papa marmitas”, definitivamente, havia encerrado a sua tumultuada carreira ...

B.Hte., 25/03/97 -o-o-o-o-o-

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 16/09/2009
Código do texto: T1813322
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