Beleza e Conteúdo

A beleza sempre nos fascina. Ficamos embevecidos diante de uma criança com sua beleza pura, diante de uma flor, ao contemplar o pôr do Sol ou o raiar da aurora.

Um rosto perfeito, um corpo escultural, enfim, uma beleza helênica é sempre motivo de admiração por parte de qualquer mortal.

Quase sempre, diante de uma pessoa bela, esquecemos outros atributos que estão no íntimo de cada ser.

Somos capazes de render homenagem à beleza, sem nem pensar no que se esconde atrás dela.

Quando entrei para trabalhar em uma firma, na qual acabei me aposentando, conheci uma moça muito feia, a Graça. Não tinha aquele algo que seu nome inspirava. Era feia e pouco agradável esteticamente falando. Os seus olhos míopes e deformados pelo use dos óculos que lembravam um fundo de garrafa, não permitiam perscrutássemos a sua alma. 0 seu corpo era formado por todos os membros de um corpo humano, mas desajeitado, sem curvas suaves e suas carnes eram mal distribuídas, em fim, a natureza lhe fora ingrata. Entretanto, quando falava, sua voz parecia música acariciando nossos ouvidos. Era terna e carinhosa com todos, preocupava-se quando via um colega triste ou em dificuldade e logo procurava ajudar. 0 que a natureza lhe negou no físico, se esmerou em lhe dar na alma, na pureza, na retidão de caráter e na bondade .

Ela nos contava, rindo, como se fosse uma piada, que certo dia um cliente foi ao caixa pagar uma conta e perguntou qual era o nome dela. Respondeu-lhe que se chamava Graça. Ele então disse: menina! Você não é Graça, mas sim uma desgraça.

Feia e pouco agradável me fazia lembrar uma fruta que nunca vi enfeitando nenhuma fruteira, ou colocada com destaque no arranjo de uma mesa, ou pintada em quadros de natureza morta: a Jaca de aparência grotesca, áspera exteriormente, entretanto quando aberta revela um interior maravilhoso de cheiro e sabor agradabilíssimos.

A beleza é efêmera, mutável. 0 interior, que não vemos com os olhos físicos, muitas vezes nos revela as mais agradáveis surpresas e é perene.

Lucilia Cavalcanti
Enviado por Lucilia Cavalcanti em 17/09/2009
Reeditado em 29/09/2009
Código do texto: T1816519
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